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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Brasil: educar para ser canalha

Ricardo Líper


Pierre Ramon, ao centro: "Ele estava na manifestação, todo fortinho, lutador de jiu-jitsu." Palavras do delegado: "fortinho", "lutador", e desde quando isto é negativo ou crime?

Curioso o que se ensina à nossa juventude:  um jovem estudante de arquitetura, corajoso enfrenta, em uma manifestação popular, a repressão. Em legítima defesa enfrentou com competência quem queria lhe agrediu. Usou máscara contra gases, lutou e venceu.
A imprensa o filma em ação. A policia, possivelmente secreta, o identifica. Ele foi preso. Pode ser torturado, enquadrado em tudo que quiserem como coisas tipo "formação de quadrilha", "terrorismo" e até que matou Cristo.
Ele é chamado de "vândalo". Há alguns anos, na ditadura explícita, seria chamado de "subversivo". O nome sempre foi  importante para desmoralizar e descaracterizar a pessoa. A nossa atual ditadura é implícita. Faz tudo para exercer uma ditadura dizendo que é democracia. Se informe sobre a PEC 37, uma proposta de emenda constitucional que quer tirar do Ministério Público os seus poderes de investigaçãoo que pode levar o Brasil a uma era ainda mais sombria de corrupção e impunidade. 
Mas voltando ao rapaz. Segundo insinuam ser uma "tendência ao crime", ele tem por esporte artes marciais. Sugerem que um jovem ter um esporte que não seja jogar bola em um terreno baldio é uma coisa errada. Quase um crime. Ser forte e saber lutar para se defender é errado. O bom é ser manso e delicado para através dessa estratégia roubar com inteligência usando a negociata como profissão. Aprender a ser corajoso e saber lutar, como esporte, para se defender é errado, como sugerem nas entrelinhas. Usar uma máscara contra gases para se defender está errado também. Se um jovem fuma maconha está também errado porque é um drogado. Se um jovem é sexualmente livre está errado também, ele tem de seguir as normas da moral sexual cristã. Se ele bebe e gosta de festas é um irresponsável. Se não consegue emprego é um pária social. Não existe emprego para ninguém no Brasil. O que é, então, o certo? O rapaz covarde, dissimulado, delicado, sem ser veado ou sendo veado, pouco importa, desde que ninguém saiba, porque será um veado dissimulado. O importante é que arranje um meio de roubar, de terno e gravata, as riquezas do País onde mora, fazer negociatas, corromper tudo e todos. Esse sim é o certo e o herói nacional. É isso que a imprensa ensina, que os governos sempre ensinaram, o canalha é o modelo de educação ensinada em nossas escolas durante séculos e de treinamento em todos os lugares e profissões. O puxa-saco dos poderosos, o fingido, o que na sombra. procura viver de negociatas sem trabalhar. O ladrão socialmente adorável, casadinho com mulheres chiques e quase de plástico, e ele fingindo sobre tudo e traindo todos sem pestanejar quando for necessário. Tanto que passa como o modelo ideal. A nossa sociedade ensina, desde as escolas até os governos, que só os canalhas vencem. E os exemplos são todos que tiveram sucesso na vida. O caminho é esse. Quando alguém discorda é preso. Observe. Os pais dizem isso aos filhos todos os dias e fazem vista grossa com o "roubo  light". Aquela negociata tipo receber dinheiro, se jornalista, para defender empresas enganando o povo, fazer obras, se político, para ganhar rios de dinheiro, enfim milhares de coisas que não se percebe e é bem escondido. No fundo, toda a família quer ter um filho ladrão. Light, claro. De grandes golpes. Um ladrão de casaca. Falso em tudo. Como filho, como paí, como amigo. Só querendo dinheiro e poder para, nas sombras, ser um devasso, de uma crueldade e insensibilidade com o sofrimento alheio impressionantes.  Educação no Brasil é isso, desde a família até a população, que reclama quando é a vítima desse tipo de ladrão, mas inveja no fundo da alma o corrupto, o safado, o canalha e quer ser ou que o filho seja o maior deles. O criminoso que nunca é pego porque cuidadosamente é um grande ator é o sonho de qualquer pai. Não tem diferença de classe esse comportamento. Vai do vendedor ambulante aos que dominam o poder político, passando por empresários, construtoras, empresas as mais variadas possíveis, jornalistas, médicos, enfim, todos. Quem fugir a esse modelo será ou preso ou perseguido por toda a sua vida. A mulher o corneia ou o abandona porque ele não venceu na vida, os filhos o desprezam, principalmente os que já estão roubando e ele não tem amigos. Um ou outro fracassado e cachaceiro como ele. Porque ele não tem nada a oferecer. Nenhuma negociata, nenhum poder, é um seu fulano qualquer. Um pica fina que muitas vezes nem sobe. Não é "o home", é um merda.

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