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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nos desocupem



Eduardo Lima

  Estava passando por Ondina, mais precisamente pela frente da famosa Praia do Oi (apelido dado pelo fato de “todos” do Calabar, Federação, São Lázaro, entre outros, se baterem, às vezes de forma literal, por lá) e que é também conhecida como Cocô Beach (traduza e pronto) quando, devido à lentidão do trânsito, pude reconhecer num grupinho no meio da rua algumas caras conhecidas, apesar de completamente fantasiadas. Digo fantasiadas por estarem, talvez pelo caráter do evento, usando o que me arrisco chamar de roupa de protesto ou Desocupa-Wear!. Xiiiiiiii! Lembrei que era aquele protesto contra o camarote tal. Num estalo me veio a pergunta: onde raios teriam “intocado” os inseparáveis IPOD’s e os All Star Converse? Maldade minha. Êpaaa! Terem passado toda a vida ouvindo músicas estrangeiras e usado roupas americanizadas é só um detalhe, claro! O sangue afro deve ter falado mais forte, né?
  Parei o carro mais à frente e fiquei observando o protesto popular. Máscaras do teatro grego? Pernas de Pau? Lindo! Carrinho de Café estilizado com a sua “pilota” falando ao microfone que tem direito de falar a PORRA que quiser? Menos lindo! Mas o bicho pegou mesmo foi quando uma senhora toma o microfone e fala: “...a praça é nossa, Salvador é do povo!!”
  Imagino que os idealizadores deste evento sejam aqueles dois ou três que sobraram atrás do Trio de Armandinho, ou que ficaram felizes com a nova Festa do Bonfim sem os trios, ou mesmo os que contribuíram para a atual situação da Praça Castro Alves no (des)encontro de trios ao acharem, naquela época, que os blocos da “elite” atrapalhavam.
  Na minha mente romântica cabe este mundo ideal de festas populares com o governo apenas decorando a cidade e o povo dançando alegremente sem distinção... Já com os pés no chão enxergo que Armandinho está pagando um mico da zorra, com ninguém curtindo, principalmente com aquelas caretas ao fazer a guitarra falarrrrr (argh!). A Festa do Bonfim ficou uma merda sem os trios, pois o barato era o carnaval fora de época, afinal, só as baianas vão até a Igreja. Mas, não! Eles querem que a Praça de Ondina seja do povo igual à Praça Castro Alves.... penso que se a fórmula Desocupa tivesse certa não tinha sobrado só a Festa do Rio Vermelho, e olhe lá se sobrou!
   Pior é quando entra no coro os “alienígenas”da cultura baiana e fazem Desocupa pra impedir a substituição da balaustrada da Barra por um calçadão de 5 metros dando maior conforto e beleza. Fazem Desocupa impedindo o governo de dinamitar aquelas pedras à direita do Farol da Barra, criando assim uma nova praia para banho. Desocupa tentando impedir o Bahia Marina, os píeres do Corredor da Vitória, Desocupa procurando problema pelos “gringos” estarem comprando os casarões do Santo Antônio todo (era melhor deixar às traças?). Provavelmente tentarão fazer Desocupa com o novo gabarito da orla, pois devem achar que é melhor aquele monte de praias desertas e a favelização dos arredores, como está hoje.
  Senhores Desocupadores, criem dificuldades e antipatias com os investidores e patrocinadores e depois esperem sentados em tamboretes das antigas barracas de madeira e lona pelos trios tocando “varre-varre vassourinha” com Baby, Morais, Pepeu, Sarajane, Armandinho e Paulinho Boca. Pois os Chicletes, Ivetes e outras atrações de peso vão pra onde a grana for...
Pragas invejosas!
Me desocupem.

Eduardo Lima foi colega de Alex Ferraz e Tony Pacheco no jornal A Tarde.

5 comentários:

  1. E você tem se ocupado do quê?

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  2. invejosos, é nós mesmo...


    nós nos colocamos contra "os investidores e patrocinadores" porque a sua ação de "modernização" da nossa cidade é excludente e elitista.

    queremos uma salvador para todos: de são tomé de paripe até itapuã; da praia do flamengo até boca da mata; etc...

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  3. Em Robocop a ideia dos capitalistas burgueses de plantão era essa também... o que importa nessa sociedade são os patrocínios... kkkk... então, nada mais justo, que privatizar a polícia (essa era a história de Robocop)... e por aqui vamos privatizar as praias, passarelas e sinaleiras (colocando borboletas prás pessoas passarem só com passe de 1 real)...
    Pra entrar no Carnaval da Castro Alves ia ter de ter pulseirinha (azuis prá riquinho e amarelas prá classe média... pobre ia ser pião).
    O povo do Pau da Lima ia ter de comprar passes prá poder atravessar a Av. Paralela e conseguir chegar na praia...
    Pois bem, Senhores desocupadores, continuem sua luta... ocupem muito... ocupem tudo que puder (e desocupem quando a polícia chegar, a mando dos juízes de plantão, pois não vale a pena tomar porrada num mundo que chegou nessa situação dantesca).

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  4. Acho que você não entendeu nada, tá trocando tudo, pondo palavras na bocas das pessoas, talvez tenha ficado chateado dentro do seu luxuoso carro, suponho, ao se bater com a manifestação. Mas não entendo porque publicar neste site "Inimigo do Rei" você parece mais "amigo do rei", por que não mandou uma carta para "Veja"?

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