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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sexta economia, cesta vazia.

Alex Ferraz

Ainda bem que o ministro Guido Mantega teve a sensatez de dizer que não há muito o que comemorar. O Brasil passou a ser a sexta economia do mundo, ultrapassando a Inglaterra. Ontem, quase que numa clarividência, eu dizia nesta coluna como é boçal posarmos de país rico lá fora, no mundo mais civilizado, enquanto nossas cidades estão rodeadas de favelas cada vez maiores. Pois bem: não há mesmo o que comemorar. Ocorre que a distribuição de renda no País é das piores do mundo e somente uma estreita faixa da população tira proveito deste PIB que sobe no ranking mundial.
Nem de longe me refiro aqui a teorias comunistas, do tipo pobreza para todos (e que nunca foi assim, porque na URSS surgiu a nova classe, que viveu nababescamente às custas do Estado). Comparo com distribuição de renda de países capitalistas, com a própria Inglaterra, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, o Japão.
Diz o ministro Mantega que somente dentro de uns 20 anos chegaremos a um nível de vida europeu. Duvido muito. Para isso, além de uma reviravolta na distribuição de renda, seria necessário ter uma população maciçamente educada e muito bem informada, além de serviços públicos essenciais que funcionassem dignamente.
E, é claro, os cargos políticos deveriam deixar de ser “capitanias hereditárias” para que houvesse uma renovação, uma nova geração de políticos que se preocupasse mais em fazer nome e carreira com base em ações dignas para o povo. Alguém aí acha que 20 anos serão suficientes para consertar 511? Hum...

Ainda sobre
a renda (I)
Um exemplo gritante de como riquezas traduzidas em economês praticamente nada significam quando olhamos para a realidade social, neste país, vem da nossa vizinha São Francisco do Conde, cidade do Recôncavo baiano que tem a “maior renda per capita” do Brasil, graças a royalties de petróleo.
No site Bahia Já, do jornalista Tasso Franco, encontrei ampla matéria sobre as desigualdades naquele município, e destaco: “A realidade de São Francisco do Conde, no interior da Bahia, não faz justiça ao dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o município. Ele ocupa o topo do ranking do PIB per capita (Produto Interno Bruto dividido pelo número de habitantes) em 2009, com um valor de R$ 360 mil por morador. Entretanto, na cidade faltam empregos, saneamento básico e leito de UTI.”

Ainda sobre
a renda (II)
Prossegue o Bahia Já: “A cidade tem pouco mais de 33 mil moradores e ganhou destaque no ranking do PIB das cidades brasileiras por ter instalada em seu território a refinaria Landulpho Alves, a segunda maior em capacidade instalada de refino do país. O PIB total em 2009, em valores correntes, foi de R$ 1.437.501,10, segundo o levantamento.”

Ainda sobre
a renda (III)
Como se vê, os números da macroeconomia não têm significado algum para quem está na base da pirâmide social. Dizer, por exemplo, que empregadores pagaram R$ 53 bilhões em 13º salário, este ano, causa grande impacto. Porém, dividir essa fortuna por dezenas de milhões de salários achatados, resulta em quantias pífias, que iludem populações inteiras endividadas até o pescoço, achando-se, realmente, em uma “nova realidade social”.

Ainda sobre
a renda (IV)
Para os que acham que estou exagerando, dou apenas uma dica: saiam agora de casa e vão dar uma volta no Lobato, nsa entranhas de São Caetano, na Cidade de Plástico, na Praça da Piedade, no Largo Dois de Julho, tudo isso em Salvador, e verão se a realidade da miséria cruel tem cara de sexta economia do mundo. Pois sim!

* publicado na coluna Em Tempo, "Tribuna", 27.12.2011.

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