Filmes Comentários

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

QUEIXAS BRASILEIRAS NA ONU NÃO SERÃO OUVIDAS.

 JORNAL COMENTADO 161
7:17 - 26.09.2013 - Quinta-feira

TONy PACheco*
                          Não adianta cara feia pra menino grandão. Melhor se aliar a ele.

“Líderes latino-americanos inundam ONU de queixas”
(jornal “Zero Hora”, Porto Alegre, on line)

“EUA contribuem com 22 de cada 100 dólares da ONU. Brasil contribui 10 vezes menos e Índia com quase nada”
(manchete que ninguém deu)

As queixas da presidente Dilma a respeito da espionagem do governo americano a ela e à Petrobras e a todos os brasileiros, pois EUA e Reino Unido estão espionando é o mundo inteiro, são justíssimas e devem, mesmo, ser levadas a todos os foros internacionais. Contudo, tendem a cair no vazio, porque a ONU, onde as queixas foram levadas, é um órgão multilateral que não tem eficácia alguma na prática, visto que os Estados Unidos têm o direito de veto de qualquer reação internacional aos seus atos. Só pra lembrar um fato recente: os Estados Unidos invadiram o Iraque contra a expressa desaprovação da ONU. E por que invadiu sem a ONU apoiar? Porque além de manterem a ONU (22% do orçamento da entidade são pagos pelo governo americano), os EUA são responsáveis por 39% dos gastos militares do mundo e com quase 16 trilhões de dólares de Produto Interno Bruto, tem 19% de toda a riqueza do planeta Terra. Não é impossível lutar contra um país com este poder. Claro que não é. Agora, sendo o Brasil um país capitalista como os EUA, do mesmo hemisfério dos EUA e, o mais importante, fazendo parte do mesmo tipo de civilização (o chamado “Ocidente judaico-cristão” herdeiro do mundo greco-romano), e não tendo nem poder militar nem econômico para enfrentar um gigante de tal porte, É MAIS INTELIGENTE SER ALIADO DO QUE INIMIGO DOS EUA. 
O Japão e a Alemanha agiram assim em meados do séc. XX: primeiro tentaram destruir os EUA, como viram que era bobagem, após milhões de perdas humanas, tornaram-se sócios do capitalismo americano e, hoje, seus povos moram em dois países dos melhores para se viver em termos de educação, saúde, segurança, mobilidade, lazer, moradia, enfim, aquilo pelo que todo ser humano almeja. Conseguiram sendo aliados dos americanos e não mais inimigos deles.

UM CONSELHO, ESQUEÇAM O CONSELHO...

A principal reivindicação do governo brasileiro na ONU, por exemplo, que não encontra nenhuma simpatia das grandes potências mundiais, é que o Brasil tenha assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. E o que é este Conselho? São os países que têm arsenal atômico suficiente para colocar em risco a espécie humana na Terra: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido (Inglaterra) e França. Estes cinco países têm O PODER DE VETAR QUALQUER RESOLUÇÃO DA ONU SOBRE QUALQUER ASSUNTO. Ou seja, a ONU deveria cuidar apenas de assuntos humanitários diante deste tipo de organização, já que a Assembléia Geral na qual a presidente Dilma falou NÃO TEM PODER EFETIVO ALGUM. Vejam, agora, por exemplo, o caso da Síria: os EUA querem invadir a Síria e derrubar o ditador Assad. Mas China e Rússia, que têm interesses na Síria, já disseram que VETAM qualquer ação militar ali. Pronto. Se os EUA decidirem, simplesmente pegam uma “renca” de países miseráveis da ONU e invadem a Síria se assim o quiserem sem ouvir a ONU, como fizeram no Iraque. E por que? Porque podem. Só isso. E uma cacetada de países vai oferecer um ou dois soldados só para que os EUA digam que é uma “aliança internacional”. Países como Nauru, Tuvalu e Ilhas Marshall, por exemplo, têm PIB menor do que a contribuição dos EUA à UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura). Já países como Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé & Príncipe, Mônaco, Libéria e outros, têm um PIB menor do que a contribuição dos EUA para sustentar a ONU. É meio imoral, diante de um quadro desses, exigir que o Brasil tenha O MESMO PODER DE VETO que os Estados Unidos têm na ONU. É quase infame.
O caso mais recente em que os EUA foram fragorosamente derrotados na ONU foi a assembleia da UNESCO que decidiu a favor da Palestina como Estado. Como os americanos davam 144 milhões de dólares por ano à UNESCO, em 2012 o órgão simplesmente entrou na pior crise financeira de sua história, prejudicando todo o seu trabalho educacional e cultural em todos os países do mundo, principalmente os mais pobres, já que nem Brasil, nem Índia ou África do Sul, que querem ser membros permanentes do Conselho de Segurança, têm dinheiro para bancar a parte americana que foi retirada em represália à decisão de reconhecer a Palestina. Os EUA deixaram de mandar seus dólares e simplesmente a UNESCO está no fundo do poço. Deviam mandar os estados-membros irem em comissão à tal Palestina pedir os 144 milhões de dólares para que a entidade volte a assistir os países mais pobres do mundo...

PARA LUTAR É PRECISO SE ARMAR

Uma coisa Sigmund Freud nos ensinou a não perdermos de vista: A REALIDADE NUNCA É DO JEITO QUE NÓS QUEREMOS. Isto não significa que tenhamos que desistir de revolucionar a realidade. Mas significa que PRECISAMOS TER MUNIÇÃO APROPRIADA para transformar a realidade.  
Uma coisa é certa, se um dia Brasil, Índia e África do Sul, que contribuem com migalhas para a existência da ONU, tiverem O MESMO PODER que os EUA têm naquela organização, podemos saber de uma coisa: os EUA vão cair fora da entidade e ela simplesmente vai acabar. Como acabou, aliás, a Liga das Nações, a predecessora da ONU, que existiu de 1919 a 1946,  e que tinha o Brasil como membro fundador. Em 1926, tal como hoje faz o governo brasileiro, o ex-presidente Artur Bernardes fez uma manobra para que o Brasil fizesse parte do Conselho de Segurança de então (Conselho Executivo era o nome naquela época). Como a Liga das Nações não aceitou nossa pressão, em 1926 caímos fora assim meio que humilhados. Já os EUA nunca participaram da antecessora da ONU e a Alemanha de Hitler caiu fora quando viu que este tipo de organismo é totalmente impróprio pra quem tem poder demais: Hitler queria conquistar o mundo e, claro, uma liga de nações pacíficas era tudo que ele não precisava.

RESUMO DA ÓPERA

O Conselho de Segurança da ONU, que tem o poder de iniciar ou acabar com guerras em qualquer parte do mundo e no qual o Brasil quer ter um assento permanente e ter o mesmo poder de EUA, China, Rússia, Inglaterra e França, é uma entidade que tem poder atômico para destruir o planeta Terra várias vezes com seus atuais membros. O Brasil não tem poder atômico algum e mesmo as suas forças militares convencionais não conseguem sequer patrulhar nossas fronteiras terrestres, por onde entra boa parte da produção mundial de cocaína, por exemplo. Portanto, mesmo que tivéssemos tal assento, não teríamos PODER DE FATO para impor nossas decisões, como é o caso dos cinco países permanentes atuais.
É melhor a gente ir buscar outro playground pra brincar, porque neste só tem meninos grandões.

* tonY Pacheco é jornalista-radialista profissional formado pela UFBA, estudou Economia e Psicanálise (UFJF/UFBA e SPOB) e editou Política Internacional no jornal "Tribuna da Bahia")




2 comentários:

  1. Excelente texto, Tony absolutamente esclarecedor! E rico em preciosos detalhes que servem para o esclarecimento real da política internacional vigente, a impressão que se tem ao se ler e que você o escreveu com seu laptop sentado em uma daquelas cadeiras glamorosas da Assembleia geral da ONU, rs,rs,Brincadeiras a aparte a crítica provem uma introspecção interessante. Os mais ufanistas dirão que você esta sofrendo de um ataque de síndrome de baixa autoestima brasileira, mas não esta. Na realidade você padecendo é de uma epifânia atordoante de lucidez parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por sua opinião. E pelo elogio hehehehehhehe

    ResponderExcluir