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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Coreia, Irã e, agora, Síria: a águia americana está virando um passarinho.


JORNAL COMENTADO 158
6:37 – 17.09.2013 – Terça-feira

Tony PACheco*

“Ataque a militares americanos dentro dos próprios EUA”
(toda a mídia mundial)
                  Imperador Rômulo, ajoelhado, entrega sua coroa ao invasor Odoacro
Quem, como meu amigo e jornalista Alex Ferraz, perambulou pelas ruas de Washington sabe que toda a arquitetura da capital americana é inspirada na civilização greco-romana. Os americanos se acham herdeiros legítimos do Império Romano. Só que isso, há algum tempo, era um trunfo, pois, no auge, o Império Romano detinha 6,7 milhões de quilômetros quadrados da Europa, Ásia e África, mas, na sua decadência lembra demais os momentos pelos quais o Império Americano está passando neste momento.
Primeiro, foi o desafiante nanico, o “País dos Kim”, a Coreia do Norte, que vem infernizando a vida dos americanos montando um arsenal nuclear incipiente, mas suficiente para ameaçar o Japão, o maior aliado do Império Americano na Ásia. Os EUA nada puderam fazer, pois a madrinha dos coreanos é a China, que de vez em quando passa um carão nos meninos pintões que governam a pequena península, mas gosta mesmo é de deixar as crianças atormentando o Tio Sam. Concomitantemente, os homens-de-toalha-na-cabeça que governam a antiga Pérsia, hoje o Irã dos aiotalás fundamentalistas muçulmanos, desde o fim do regime do xá Pahlevi, em 1979, vem se tornando um calo insuportável no domínio americano no Oriente Médio. No caso do Irã, a madrinha é a Rússia. Destruído o Império Soviético a partir da Queda do Muro de Berlim, em 1989, a partir daí a Rússia perdeu o controle sobre todas as suas repúblicas islâmicas na Ásia (Azerbaidjão, Kazaquistão, Turcomenistão, Kirguizistão, Uzbequistão e Tadjiquistão) e sua proeminência sobre os países árabes diminuiu sensivelmente. No entanto, a partir da ascensão de Vladimir Putin ao poder em Moscou, em 1999, a Rússia começou a “colar os caquinhos do seu velho mundo” (Marina Lima). Neste sentido, passou a dar suporte à arrogância do Irã em seu permanente desafio ao governo americano. Junte-se a isso, como diria o velho Marx, os interesses econômicos por trás: Rússia e Irã compartilham interesses de petróleo e gás no mercado internacional.
E, aí, chegamos à Síria. Esta, para o Império Americano, além do valor estratégico de suas reservas de gás, tem o valor sentimental (ideológico) de ter sido pátria de três imperadores romanos (Heliogábalo, Filipe O Arábe e Prisco) e dói demais em Washington saber que os laços entre Moscou e Damasco, que já foram fortíssimos na época da República Árabe Unida (Egito e Síria), hoje voltam a ser sólidos a ponto de Vladimir Putin dizer por minuto que não vai tolerar uma intervenção militar dos EUA na Síria. E quando Barack Obama disse que o governo sírio usou gás Sarin contra seu próprio povo (em rebelião permanente), Putin simplesmente retrucou que quem usou armas químicas foram os rebeldes apoiados pelos EUA para darem um motivo para a intervenção americana. Durma-se com um barulho desses...
A Síria é, por assim dizer, o marco principal do que se convencionou chamar de “O Declínio do Império Americano”. Na Guerra Irã-Iraque, simplesmente apoiou o Irã, contra os interesses americanos. Já, agora, pela primeira vez um líder americano fica fazendo consultas intermináveis a seus aliados europeus e ao Congresso dos próprios EUA para poder dar uma surra corretiva num país que se insurge contra seu poderio. Até as aventuras no Kuait, Afeganistão e Iraque, o que incomodava ao Império Americano era exemplarmente enfrentado com homens e armas. Agora, a fala mansa, a dubiedade, a tibieza e a incerteza mostram que tal como na queda do Império Romano do Ocidente (séc. V), os “bárbaros” ATACAM O TERRITÓRIO DO IMPÉRIO (“território” aí como os interesses geopolíticos, já que Síria é simplesmente um país da fronteira de Israel e desestabiliza os aliados na área, como Jordânia, Iraque e Arábia Saudita) e a única coisa que o Império Americano  está fazendo é ESPERNEAR ( “jus esperneandi” tão caro aos advogados e juízes). Até o “megalo-nanico” Brasil se mete na conversa e diz que não há necessidade de intervenção militar. Sim, pode-se meter armas químicas em seu próprio povo, como o regime sírio fez, e ISSO NÃO É DA CONTA DE NINGUÉM para Brasília. Claro que não, sem uma polícia internacional, que é o papel que os EUA fez nos últimos 100 anos, qualquer país vai poder reprimir violentamente seus opositores internos e ninguém mais vai se meter, como ninguém se mete com a China, país que desde os anos 1950 vem massacrando sistematicamente os budistas no Tibet.

De concreto, o vacilante Império Americano de tanto consultar a comunidade internacional sobre uma intervenção humanitária na Síria (com, claro, razões geopolíticas e econômicas por trás) vai acabar mandando um recado claro ao mundo: “nós, americanos, não acreditamos mais em nossos princípios e, portanto, não temos mais nem apoio interno para intervir em lugar nenhum”. 
Só nos faz lembrar Odoacro, que ao invadir o Império Romano, pondo fim a cinco séculos de poderio, nem precisou matar o imperador Rômulo Augusto. Este entregou a coroa ao líder bárbaro e Odoacro, encantado com a beleza do jovem ex-imperador, ainda deu-lhe uma pensão vitalícia para viver com seus familiares sem ser importunado. Mas, como Obama nem é jovem nem é lindo, não se sabe bem qual seria o destino dele ao final do Império Americano...

* tonY Pacheco é jornalista-radialista formado pela UFBA, registrado no Ministério do Trabalho sob número 966.

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