JORNAL COMENTADO 4

tonY pachecO

6:30 – 23.11.2012 – sexta-feira

“Ele lutou por conta própria”

(Correio)

Independente daquilo que se tornou o ex-presidente Lula, foi ele quem nomeou Joaquim Barbosa para o STF,  por indicação do Frei Betto, mineirinho como Barbosa. Então, parabéns à dupla Lula e Frei Betto. Deveriam ter sido homenageados, ontem, por nos terem dado um ministro como Barbosa...

A frase de Dona Benedita Barbosa é a  manchete do Correio e foi a escolhida como principal de hoje por dois motivos: primeiro, por ser uma mentira, já que Sigmund Freud nos deu como legado o entendimento de que são as mães (ou a figura que estiver fazendo o papel de mãe na primeira infância) que moldam nosso caráter para o resto de nossas vidas. Portanto, Dona Benedita Barbosa, a senhora tem um percentual enorme de responsabilidade na chegada de seu filho à Presidência do Supremo Tribunal Federal.

Segundo, a ascensão de Joaquim Barbosa ao comando do STF é tão emblemática quanto a eleição de Barack Obama à Presidência dos EUA em 2008 e, não sem razão, também tomou as páginas da imprensa mundial. No caso de Obama, vimos que presidentes americanos, brancos ou negros, agem sempre da mesma maneira. São figuras decorativas, como rainhas da Inglaterra.

Agora, no caso de Barbosa, teremos, sim, mudanças na qualidade da Justiça que se aplica no Brasil, pois Barbosa não é apenas um-negro-no-poder-que-nos-traz-esperança, ele já mostrou, na prática, nos últimos meses, que é um homem que usa o poder sem medo. Quem não gosta do seu mau humor é porque nunca teve os problemas de saúde que ele tem. Quem não gosta do seu jeito autoritário é porque nunca teve que lidar com os interesses bandidos que estão por trás de boa parte das causas que passam pelo STF.

Barbosa não vai surpreender ninguém. Teremos mais do mesmo. E ele já mostrou que o “mesmo” dele será tudo o que os juízes e políticos mais odeiam, Justiça com J maiúsculo.

“Dilma sugere que vai descartar indicação partidária para o STF”  

(Folha de S. Paulo)

A presidente Dilma Rousseff perdeu uma ótima oportunidade de observar silêncio, ontem, na posse de Joaquim Barbosa no STF. Parece que não lhe ensinaram que em posses e homenagens a outrem, devemos reservar ao outrem os holofotes e não procurar disputar atenções.

Aproveitando a quantidade de gente em Brasília para homenagear Barbosa, a presidente mandou vários “recados”: sugeriu que na próxima nomeação para o STF não vai querer gente do partido dela nem de partido nenhum, que não vai querer gente que goste de holofotes, não vai querer gente conservadora demais etc. etc. etc. Ou seja, alfinetou o homenageado. Não precisava fazer isso, já que a nomeação para o Supremo é ato soberano do Presidente da República. Ela não precisa dar satisfação a ninguém.

“Ubaldo é imortal também na Bahia”

(Tribuna)

Quem conheceu João Ubaldo Ribeiro na intimidade da Redação da Tribuna da Bahia, onde ele era o manda-chuva, como meus colegas jornalistas Alex Ferraz e Lula Carvalho conheceram, sabe que ele nunca foi afeito a estas entidades como as academias de Letras. Nunca gostou da empáfia e da inutilidade básica destes ajuntamentos de vaidades. Pelo contrário e aí falo por mim, que convivi com ele trabalhando na Tribuna, superficialmente e por pouquíssimo tempo (ao contrário de Lula e de Alex, que privam de sua amizade até hoje), ele não só era avesso a este tipo de “honraria”, como combatia, pelo que eu entendia de suas atitudes e palavras.

Mas, o tempo é o senhor de tudo. Com o avançar da idade, as carências afetivas falam mais alto e todo e qualquer sorriso, todo e qualquer afago nos enternece o coração e nos parecem mais importantes do que realmente são. E, aí, fica a pergunta: um intelectual do porte de Ubaldo, um escritor do porte de Ubaldo, um jornalista do porte de Ubaldo, precisa de uma cadeira na Academia de Letras da Bahia?

Precisa. Eu precisaria, você que está lendo precisaria, Jesus Cristo precisaria. Na idade dele, todo carinho, por mais inexpressivo que seja, se transforma em alento para continuar a vida. Então, parabéns à Academia de Letras da Bahia!

“IPVA de uma Ferrari vale preço de 4 carros populares”

(Tribuna)

No dia em que fui ao Iguatemi ver a Ferrari California, a primeira coisa que pensei é: quem na Bahia tem condições de manter um carro deste? A Tribuna de hoje, “quase” me respondeu.

Pensei que iam informar IPVA na Bahia, custo do seguro, valor das revisões. Fui ávido à página 6 e lá... não tinha nada do que eu precisava.

A matéria falava na Ferrari FF, cujo F dobrado significa que é o primeiro carro da marca com quatro lugares vendido para o público em geral, já que o sultão de Brunei Darussalam (uma ex-colônia britânica na Ilha de Bornéu, no Sul da Ásia), já tinha mandado fazer uma só para ele. Sultão islamita é assim: bota pra F... Dois F...

Então, vamos lá: a Ferrari que o Iguatemi sorteará não é aquela da matéria da Tribuna, pois a do shopping custa 1,4 milhão de reais, mais ou menos, e a que fala a matéria custa 2,5 milhões, quase o dobro.

Na Bahia, a Ferrari do Iguatemi pagará, por baixo, 40 mil reais de IPVA; entre 70 a 140 mil reais de seguro, a depender do perfil do ganhador – se for um inexpressivo financeiro como eu ou dona Maria do Calabetão, a seguradora vai exigir da gente o prêmio máximo: 10% do valor do carro ou 140 mil reais.

Resumo da ópera: mesmo estando na janela há tantos anos como jornalista, não conheço ninguém na Bahia que tenha condições de ter um carro como esta Ferrari, mesmo sendo “baratinha” como ela é. Quem ganhar vai negociar logo em dinheiro (somos um estado de pessoas pobres, até nossos ricos são, assim, pobres em relação aos ricos do Sul/Sudeste). Quem ganhar nem vai querer dirigi-la e se fosse eu aceitava qualquer 1 milhão por ela, só para não tira-la do estande...