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sábado, 31 de março de 2012

"O preço da liberdade é a eterna vigilância"

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Carlos Baqueiro
cbaqueiro@terra.com.br

Há 48 atrás, quando ainda não existia internet, e quando os militares entenderam que deviam proteger o país das garras dos comunistas, a frase "O preço da liberdade é a eterna vigilância" estava em alta.

Obviamente os golpistas de 1964 se referiam à necessidade de se manter aqueles seres humanos, que teimavam em dizer que as coisas não iam bem, longe da população em geral, para que ela não fosse subvertida e contaminada por eles.

Não havia câmeras de vigilância em cada esquina, mas a mim mesmo, que vivi aqueles anos, parecia que havia um monitoramento sem interrupções. Temía-se que as cartas de correio pudessem ser abertas e lidas. Que o professor da classe não fosse apenas um simples mestre, mas um possível delator das ideias ali lançadas pelos alunos, temia-se escrever alguma coisa que incomodasse o Rei.

Colegas e amigos meus não se sentiam livres em comprar um simples jornal nanico (daqueles que malhavam a ditadura). O medo era que descobrissem o gosto pela liberdade de se expressar, e não gostassem, e reprimissem, sabe-se lá como.

Hoje aparentemente estamos em outros tempos. Somos "livres"... mas, se somos livres,  por que temos de ser monitorados e vigiados a todo momento ? Viram a quantidade de Câmeras de Vigilância (as CCTV) instaladas nas ruas e avenidas este carnaval ? Olha a notícia encontrada nos jornais cariocas hoje:
A prefeitura do Rio testou neste Carnaval um esquema de vigilância com quase 500 câmeras. Equipamentos fixos e móveis em vários pontos da cidade monitoraram a festa. O modelo será aplicado na Copa do Mundo e na Olimpíada de 2016. Todas as imagens captadas pelas câmeras são exibidas num telão de alta definição que fica no centro de operações da prefeitura. Até agora mais de 600 pessoas foram parar na delegacia por causa disso. Mas quando é impossível a passagem do veículo, entra em ação a mochila vigilante. A tecnologia é a mesma.
Antes, os militares. Hoje, os tecnocratas no poder alardeiam a mesma antiga frase sobre a massa. Antes, em nome de uma segurança nacional. Agora, para garantir a segurança individual.

Quem garante que as aparências não estão nos enganando mais uma vez... não estarão novas aparências sendo produzidas e reproduzidas pelo jornalismo oficial, pelas grandes redes de espetáculo ?

Será que saberemos algum dia ?

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Transcrevo este texto, do blog A Era do Panóptico, postado há um ano atrás. Em nome da lembrança daqueles que "sumiram" porque não admitiam a perda da pouca liberdade que tinham.

2 comentários:

  1. mais do que nunca se faz necessário sairmos desse estado individualista de letargia zen-budista (o que vem de baixo não me atinge!) para a ação direta organizada e coletiva...

    desOKupa a moita..., e sai para a vida!

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  2. Vivemos numa sinuca de bico, Baqueiro. Sem as câmeras você não identifica as desgraças dos assassinos e ladrões que vivem a espreitar todo mundo, pobre, rico e remediado. Com as câmeras, a pretexto de nos proteger de assassinos e ladrões, monitoram nossas vidas e nos colocam em estado de permanente aflição.
    Eu vivo cheio de ódio no coração por tudo isso. Cheio de ódio.

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