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sábado, 22 de junho de 2013

Ricardo Líper

Estou em cárcere privado devido aos burgueses poderem assistir em paz o futebol na Arena. Não sei o que está acontecendo. A imprensa nada diz. Acho a presidenta saiu vitoriosa e/ou  os manifestantes se cansaram de apanhar. Agora vamos a realidade dos fatos. Estou escrevendo sem saber o que está acontecendo porque não tenho a maior noticia do que está ocorrendo lá fora. Só o barulho dos satisfeitos burgueses naquela coisa chamada arena sei lá do quê. 
Mas vamos à algumas considerações:

1 - O poder seja, onde for, e aqui é mais violento, tem vida própria. Ele tem de bater para manter-se se ameaçado. O Leviatã. Ele tem de matar se for preciso. Quem o exerce tem de agir assim. Não tem outra saída. Por mais que a democracia tenha avançado e aqui não é tão avançada assim. Se vacilar até a liberdade de imprensa já propuseram caçar. Maquiavel o descreveu de forma exemplar e todos os seguem. Portanto, não seria logo aqui e agora que ele iria mudar. 

2 - A população acostumada a sofrer, principalmente a classe média, não gosta que se perturbe sua rotina.  Vai limitando sua qualidade de vida procurando apenas a paz. A paz e a rotina dos depressivos. Fica sempre contra ao que ela chama de baderna, arruaça, vandalismo etc. Quer que volte tudo ao que era antes para ela viver a vida medíocre e depressiva, muito sofrida, em que vive. Assaltada, má assistida em tudo, suspirando a cada minuto. Mas quieta no seu canto de frustraçôes e depressão. É um país que em uma lista recente a felicidade do seu povo está nos piores lugares. Nós precisamos assumir que somos infelizes. 

3 - O que gostei da Presidenta foi ceder e receber os manifestantes, me parece que não tem presos políticos ainda. Se é que a manifestação não ocorreu vão tentar resolver problemas impossíveis de serem resolvidos.  Mas se cedeu momentaneamente. A estrutura não permite. Os personagens que ocupam o poder são diversos com muita influência aqui e ali, muitas marchas e contra-marchas. A educação acabou. O sistema de atendimento médico também. O sistema de transportes vai piorar. Não tem quem conserte. Somos condenados a ser uma república de vida dura, desorganizada, embananada onde o sofrimento é a regra e ponto final. 

4 - Não acredito em suas promessas para sair da crise. Vontade pode até ter de fazer. Acho ela bem intencionada. Quer dizer, só não acho viáveis serem conseguidas o que pretende. Tudo voltará a ser como dantes no quartel de abrantes. Mas menos gente foi espancada com a violência que em Salvador extrapolou tudo. Aqui é o sub solo do inferno há anos. 

5 - A regra é:  cada um por si e o diabo por nós todos. Temos de viver a realidade. É assim. 

6 - E assim sendo vivemos de pequenas satisfações: o voto para mim é um instrumento de pirraça e de rancor. É como posso fazer um desses profissionais do poder ficar sem ele por algum tempo. Só isso. O resto é viver aqui encarando tudo com cinismo e, se puder, ir para outro país. Ou ficar indo e vindo. Passa uns meses descançando fora, na civilização e depois vem para a desgraça por um simples amor ao seu povo sofrido e um clima muito bom, pelo menos, aqui na Bahia. 


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