“Quero matar meu colega invejoso”
“Tenho um colega de trabalho que conspira contra mim o tempo todo. Procuro ser um profissional centrado, cumpro meus deveres e ainda procuro inovar, facilitando a vida dos meus colegas e trazendo valor à empresa em que nós trabalhamos e ainda procuro, o tempo todo, me integrar socialmente com meus colegas. Mas o miserável vive a me perseguir. Às vezes tenho vontade de matar o filho-da-p... Isso é normal? O que devo fazer?” Furioso
Jesus prometeu voltar, né mesmo? Mas num mundo de 7 bilhões de pessoas, a disputa por espaço é tão animal que ele resolveu ficar lá do alto...
TonY pacheco
Calmíssimo, Furioso. O simples fato de escrever um e-mail para um site de gente desconhecida (falo de mim, não dos outros), mostra que o processo civilizatório de que nos falam Freud e Lévy-Strauss passou por você e fincou raizes profundas. Parabéns! Em verdade, não há nada de “anormal” em querer matar o colega que lhe persegue. Isto é por demais humano, pois esquecemos que antes de sermos humanos, somos animais que sairam da savana africana há pouquíssimo tempo e para chegarmos aos absurdos 7 bilhões que somos hoje, tivemos que matar muitos desafetos, de todas as espécies, pelo caminho. Teve época em que tanto nos destruiamos mutuamente e éramos tão comidos por nossos predadores, que segundo os paleontólogos e historiadores, chegamos a ficar reduzidos a menos de 10 mil habitantes em todo o planeta. Por isso, tivemos que desenvolver uma arma mais potente que a dos nossos adversários: o cérebro. Em pouco tempo (tempo cósmico, pois só saimos das savanas há milhares de anos, enquanto a idade do cosmo se conta aos... bilhões de anos), nossa arma cerebral nos colocou no topo da cadeia alimentar e hoje comemos todas as espécies que nos comiam e ainda, de quebra, ameaçamos todas as outras. Voltando à vaca fria... Sempre pensamos que nosso problema é o centro do Universo e que SÓ ACONTECE CONOSCO. Normalíssimo. Isto é saude mental. Você tem alta auto-estima, amor-próprio, e entende que o que ocorre com você é o principal. Mas, entenda que em todas as sociedades animais e não só na humana, há disputa de espaço. Veja que alguns símios têm tanta concorrência na vida que o macho alfa de certas tribos têm 20 fêmeas para seu deleite sexual enquanto os outros machos têm que ficar transando entre eles, a vida toda, porque não têm como enfrentar o dominante. Não existe paz neste planeta. Nem para as coisas, a parte inanimada do planeta. Uma rocha de hoje, amanhã pode virar areia por causa da erosão. O mundo, a natureza, como se diz, é cruel, e não vai mudar por causa de você. Você é civilizado, escreve e-mail para um site que tem seção de Comportamento, portanto, sabe que não está com vontade de matar ninguém. Você não acha melhor focar suas preocupações nas pessoas que lhe admiram? Mantenha seu inimigo sob vistas acuradas, mas não deixe que ele se torne o centro de sua vida, pois, se assim você agir, ele já venceu. Lembre-se: sempre que cuidamos mais da vida alheia do que da nossa, não temos tempo para sermos felizes, que é o que importa. O que você acha?
- Tony Pacheco tem formação em Psicanálise, Jornalismo, Economia e Radialismo e atende nesta seção a qualquer e-mail (de preferência anônimo). Mande seu problema ao tonypacheco777@gmail.com
Calmíssimo, Furioso.
"Não reconheço meu próprio filho"
"Tomei um susto, nos últimos dias, quando fui chamado pela direção da faculdade onde meu filho estuda e acusaram-no de vender drogas típicas de festas, como ecstasy, ácido e outras. Fui dialogar calmamente com meu filho e fiquei assombrado como não consigo entender o que ele diz e como ele se recusa a entender o que falo para o bem dele. Parece que criei um alienígena, não é meu filho que fica na minha frente esbravejando e me ameaçando." PAI PREOCUPADO.
tonY pachecO *
Estimado PAI PREOCUPADO, seu email parece honesto e é muito explicativo. Seu filho, desde os 2 anos de idade, segundo você conta, sempre teve tudo o de melhor que uma criança pode sonhar: babás em dois turnos, todos os brinquedos dos sonhos dos meninos e, mais recentemente, na adolescência e início da idade adulta, melhores escolas, viagens ao exterior, intercâmbio e até carro ao entrar na faculdade de administração de empresas.
Você também nos explica que sua mulher, engenheira, sai de casa às 8 da manhã e volta ao final do dia. E você, executivo de multinacional, sai junto com ela, mas não tem hora para voltar.
E sua principal queixa qual é? "Eu não conheço mais meu filho. Toda vez que tento um diálogo ele parece que não entende minha língua e eu não entendo nada do que ele diz."
Acredite, não se martirize com isso. Em todos os países ocidentais, os pais renunciaram à criação dos filhos, embora continuem tendo filhos como se fosse uma obrigação contratual com o Criador, o Estado e a família. Os projetos pessoais de homens e mulheres cada vez mais são absolutamente prioritários em relação à criação dos filhos. A preocupação básica é dar o máximo de conforto material aos filhos e só. A presença na educação da prole não faz parte da equação. E quando chega a adolescência, quando os filhos sentem a necessidade de se firmarem como seres humanos importantes neste mundo, não há com quem conversar e partem, então, para o confronto com o entorno social como forma de mostrarem que existem.
Quando ocorrem os primeiros diálogos, sempre apressados, os pais não reconhecem os filhos. Por que seria? Será porque quem criou os filhos foram as babás, os porteiros do edifício, o pessoal de limpeza do condomínio, a cozinheira, os vizinhos, os professores, o motorista? Se pudéssemos fazer uma reunião de todas as pessoas que participaram da verdadeira criação destes filhos, talvez, dos participantes desta reunião, apenas os pais estranhariam a conduta dos jovens, todos os outros entenderiam exatamente o que os jovens dizem e querem...
O quê fazer? Para filhos que estão adultos, a esta altura cabe apenas o encaminhamento aos orientadores psicológicos (terapeutas em geral, como os psicólogos e os psicanalistas), não há outra saída no horizonte, pois o tempo não volta.
* Emails para Tony Pacheco podem ser mandados, sem qualquer identificação, para tonypacheco777@gmail.com ou cartas para Caixa Postal 2540, Agência Rua Chile, Salvador, Bahia.
Tony Pacheco é jornalista, economista, radialista e psicanalista.
tonY pachecO *
Estimado PAI PREOCUPADO, seu email parece honesto e é muito explicativo. Seu filho, desde os 2 anos de idade, segundo você conta, sempre teve tudo o de melhor que uma criança pode sonhar: babás em dois turnos, todos os brinquedos dos sonhos dos meninos e, mais recentemente, na adolescência e início da idade adulta, melhores escolas, viagens ao exterior, intercâmbio e até carro ao entrar na faculdade de administração de empresas.
Você também nos explica que sua mulher, engenheira, sai de casa às 8 da manhã e volta ao final do dia. E você, executivo de multinacional, sai junto com ela, mas não tem hora para voltar.
E sua principal queixa qual é? "Eu não conheço mais meu filho. Toda vez que tento um diálogo ele parece que não entende minha língua e eu não entendo nada do que ele diz."
Acredite, não se martirize com isso. Em todos os países ocidentais, os pais renunciaram à criação dos filhos, embora continuem tendo filhos como se fosse uma obrigação contratual com o Criador, o Estado e a família. Os projetos pessoais de homens e mulheres cada vez mais são absolutamente prioritários em relação à criação dos filhos. A preocupação básica é dar o máximo de conforto material aos filhos e só. A presença na educação da prole não faz parte da equação. E quando chega a adolescência, quando os filhos sentem a necessidade de se firmarem como seres humanos importantes neste mundo, não há com quem conversar e partem, então, para o confronto com o entorno social como forma de mostrarem que existem.
Quando ocorrem os primeiros diálogos, sempre apressados, os pais não reconhecem os filhos. Por que seria? Será porque quem criou os filhos foram as babás, os porteiros do edifício, o pessoal de limpeza do condomínio, a cozinheira, os vizinhos, os professores, o motorista? Se pudéssemos fazer uma reunião de todas as pessoas que participaram da verdadeira criação destes filhos, talvez, dos participantes desta reunião, apenas os pais estranhariam a conduta dos jovens, todos os outros entenderiam exatamente o que os jovens dizem e querem...
O quê fazer? Para filhos que estão adultos, a esta altura cabe apenas o encaminhamento aos orientadores psicológicos (terapeutas em geral, como os psicólogos e os psicanalistas), não há outra saída no horizonte, pois o tempo não volta.
* Emails para Tony Pacheco podem ser mandados, sem qualquer identificação, para tonypacheco777@gmail.com ou cartas para Caixa Postal 2540, Agência Rua Chile, Salvador, Bahia.
Tony Pacheco é jornalista, economista, radialista e psicanalista.