JORNAL
COMENTADO 96
TONy pacheco*
30.04.2013 –
6:23 – Terça-feira
"CRISE ENTRE PODERES
“Autor de
proposta contra tribunal diz que Supremo faz politicagem”
(“Folha de
S. Paulo”)
“Marco Maia
coleta assinaturas para PEC que limita ação do STF”
(“Jornal da
Mídia”)
“Deputado
do PT chama Supremo Tribunal Federal de “cortezinha”
(“Jornal da
Mídia”)
Quando era
criança, meu falecido pai, um homem politizado que discutia com minha falecida
mãe as questões graves do Brasil durante o almoço e o jantar com os filhos,
nunca disse uma palavra sobre o Golpe de Estado do Primeiro de Abril (aquele de
1964, quando as Forças Armadas derrubaram o governo de João Goulart). Numa
pesquisa rápida na Internet, vi que foi assim em todos os tempos, em todas as
latitudes. O povo não se dá conta quando golpistas tramam contra a ordem
constitucional para instaurar o seu regime “prêt-à-porter”, prontinho pra ser
usado pelas classes dominantes do momento.
Assim, almoçando
e jantando felizes, sem se dar conta, meus familiares viram os tanques da Região
Militar de Juiz de Fora dirigindo-se ao Rio de Janeiro para ajudar na deposição
da ordem constitucional. Depois íamos descobrir que nossa cidade era um dos
focos principais dos golpistas que nos jogariam numa ditadura de 20 anos de
duração.
E por que
as reminiscências? Porque o que está acontecendo em Brasília, neste momento, é
apenas a ponta do iceberg (para ser bem original). É óbvio que os atuais
comandantes políticos do País não suportam este modelito que os estão obrigando
a usar: tolerar imprensa livre, tolerar um Supremo Tribunal Federal que insiste
em condená-los quando são pegos nos "mal-feitos", tolerar uma “renca” de partidos políticos
oportunistas que insistem em fatias e mais fatias de poder e de dinheiro público,
tudo isso soa como inconveniente para os donos do poder atual. Como dira o
imperador Adriano, de Roma, “é insuportável ver a oposição acampada às portas
do palácio”.
Deve ser
mesmo, por isso, deputados petistas e peemedebistas estão perdendo a humildade e, tal como Chávez
fez na Venezuela, tomaram um “Viagra político” e tiveram uma ereção de coragem
e resolveram atacar o Supremo através de uma PEC – Proposta de Emenda
Constitucional. E mais, querem acabar com este negócio de vários partidos, criando
entraves INTRANSPONÍVEIS para novas legendas. E mais, querem acabar também com o direito de o Ministério Público investigar corrupção entre os políticos.
O QUE
CHÁVEZ FEZ?
Chávez
tomou um Viagra mais potente, pois em poucos anos controlou o Supremo Tribunal
de Justiça, a Assembléia Nacional (a câmara única, depois que se arvorou em
dono da Venezuela e EXTERMINOU O SENADO que se lhe opunha, conseguindo legislar
por um ano sem precisar consultar os políticos, tudo maquiado com a autorização
dada em um plebiscito), tirou TVs e rádios das mãos de seus donos e ACABOU COM
O PLURIPARTIDARISMO: uniu os vários e vários partidinhos que viviam sob a
sombra do seu regime num PARTIDO ÚNICO, o Partido Socialista Unido da Venezuela
ou PSUV.
E, hoje, em
homenagem aos que estão colocando em andamento mudanças institucionais SEM
INCOMODAR NINGUÉM, PELO VISTO, uma coletânea de frases do falecido Hugo Chávez.
Aprendam e bom apetite, pois ainda acordaremos um dia como meus pais, num novo
regime do qual nem nos daremos conta da instalação:
"Quem
não entrar para o partido único sairá do governo."
“A
Democracia Representativa não serve para nenhum país latino-americano.”
“Estamos
sofrendo uma impotência política. Precisamos de um Viagra político.”
“Na
Venezuela, não há lugar para nenhum outro projeto que não seja o da Revolução
Bolivariana.” Deixando claro que todo partido messiânico quer ser um partido único.
“Televisões,
rádios, imprensa escrita. Não se enganem. Eu só digo a vocês e ao povo
venezuelano que isto não vai continuar assim.” Anunciando a censura à imprensa
que implantaria aos poucos.
Em 6 de
dezembro de 2007, dirigindo-se à oposição depois de perder um referendo para
modificar a Constituição: “Saibam administrar sua vitória porque já estão
cheios de merda. É uma vitória de merda.” Efetivamente, meses depois, deu outro
golpe branco e implementou todas as mudanças que o povo lhe negou o direito de
fazer, como aqui, no referendo sobre as armas, que o povo disse que queria se
armar, como mais de 60% de aprovação e, no entanto, adotou-se um Estatuto do
Desarmamento frontalmente contrário à decisão popular.
“Em 96% dos
carros, você só vê uma pessoa: a que está dirigindo. Todo mundo quer ter um
carro e dirigir pelas ruas feito um idiota, queimando litros e litros de
combustível.” Com esta frase ele chatearia muito o ex-presidente Lula, que
baseou sua popularidade em levar ao povão os automóveis e motocicletas
individuais.
“Cuba é,
sim, uma ditadura; mas não posso condenar Cuba.”
“Cuba é o
mar da felicidade. Para lá, se dirige a Venezuela.” Mostrando que era bipolar
brabo, transtornado mesmo.
“Não seria
estranho que em Marte tenha havido uma civilização. Mas, talvez, tenha chegado
lá o Capitalismo e o imperialismo, e acabaram com a vida nesse Planeta.” Mostrou
do que a Venezuela escapou com sua morte...
* tonY Pacheco é jornalista profissional formado pela Ufba.