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sexta-feira, 6 de maio de 2016

MUDANDO TUDO, PRA DEIXAR TUDO COMO ESTÁ...

ALEX FERRAZ

Mudando para ficar tudo igual

Nunca me canso de citar o genial escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957). Entre as suas obras, está o romance “Il gattopardo” (“O Leopardo”, na tradução literal para o título no Brasil), sobre a decadência da aristocracia siciliana. A certa altura, o personagem principal, um príncipe, diz a um assessor: “É preciso mudar, para que tudo fique como está.”

Eis o retrato do que parece desenhar-se para o cada vez mais provável futuro governo Temer. O ainda vice-presidente vem montando sua equipe EXATAMENTE nos mesmos moldes que são usados há décadas: a distribuição de cargos para partidos aliados e o alinhamento a algumas das forças mais retrógadas desta nação. O noticiário a respeito da composição do “novo” governo, raramente crítico, chega a ser patético quando repete as velhas sentenças do tipo “ministério tal ficará com o partido tal”, e nada, nem uma palavrinha sequer, sobre competências técnicas. Temer refaz o que se faz na Presidência da República desde tempos imemoriais, método também usado, claro, pelos governos do PT. Quem não se lembra de Lula e Haddad, este ainda candidato a prefeito de São Paulo, deixando-se fotografar entre risos e abraços com Paulo Maluf, em busca de apoio? Quem por acaso já se esqueceu das alianças com Sarney, Renan, Collor et caterva, por parte do PT?
Mas Temer foi mais adiante. Deixou-se abençoar por um pastor radical e alardeou, com fotos, sua “amizade” com um dos maiores representantes do que há de mais retrógado, reacionário, preconceituoso no Parlamento brasileiro, o deputado Marco Feliciano, com quem o futuro presidente orou “pela paz na política”, em vídeo fartamente distribuído.
Aqui, uma pequena digressão da linha geral deste artigo, para refrescar a memória dos que não se recordam mais dos “pensamentos” do senhor Feliciano. Ele culpou os próprios franceses pelos atentados terroristas contra a França, dizendo que aquele país é um dos mais liberais do mundo, de ser um dos primeiros a lutar pela legalização do aborto, por defender a liberdade sexual e principalmente pelo fato de os franceses não terem muitos filhos.  
Sobrou até para os animais. Segundo Feliciano, se você possui um gato ou um cachorro de estimação em sua casa e não filhos, você está atraindo a “islamização” e o terrorismo para o seu país.
Para encerrar esse “infeliciano” capítulo, algumas assertivas do mestre da baboseira e da reação: “Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé”; “a podridão dos sentimentos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”; “a AIDS é o câncer gay.” Sobre os direitos da mulher ele também é contra: “Quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada”. Só faltou mandar apedrejar mulher adúltera, como está na Bíblia.
Ora, ora, Sr. Temer, se é com gente deste tipo que o senhor pretende instaurar a “paz na política” e colocar o Brasil em novos rumos, estamos lascados!
Mas é o que se tem visto. Mais e mais do mesmo. E fica no ar a pergunta: o quê, afinal, está mudando? Não tenho dúvidas em afirmar: nada. Está certo que a saída de Dilma, e mesmo do PT, do governo pode dar um “refresco” na imagem do Brasil lá fora, mas cá dentro sabemos que o próprio Temer é alvo de investigações por corrupção, que muitos dos que o apóiam também estão na mira da Justiça e, pasmem, tivemos que ouvir o futuro presidente afirmar que não titubearia em chamar para seu governo pessoas sob investigação, “porque ainda se trata de investigação”.
Estamos assim: quem está saindo, Dilma e companhia, tem sobre suas cabeças acusações e processos de fazer Al Capone arrepiar os cabelos. Quem está entrando, ou voltando (como é o caso de alguns), a mesma coisa dos que estão saindo.
O CASO CUNHA
Enquanto escrevo estas linhas, vejo na TV noticiário sobre o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Já vai tarde. Como autêntico gângster, este senhor manipulou regimentos, ameaçou colegas e usou correligionários do Parlamento para tentar manter-se no cargo, mesmo sendo acusado, com provas, de tremendas falcatruas, envolvendo inclusive propinas que chegam à casa das dezenas de milhões de reais.
E mais uma vez lá vem o Brasil descendo a ladeira: o sucessor de Cunha, Waldir Maranhão (PP-MA), foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef, de receber dinheiro de corrupção, na forma de grossas propinas... Dizer mais o quê?
O CASO AÉCIO
Anteontem, fui almoçar em um restaurante próximo aqui da sede da “Tribuna da Bahia”, e o proprietário, logo que me viu entrar, desabafou: “É, Alex, estamos mesmo perdidos, perdidos.” Não, não era uma simples frase de efeito para puxar um daqueles papos em voga sobre impeachment, roubalheira na política e outros temas que podem não fazer bem à digestão, mas que certamente alimentam a relação entre dono de restaurante e cliente. Era um lamento assustado, diante das notícias recentes de investigações sobre Aécio Neves e outros políticos de peso fora do círculo petista.
O proprietário do estabelecimento, enquanto me servia uma cerveja bem gelada, meneava a cabeça e dizia:  “E agora? Quem vai consertar este País?” Embora desejasse alimentar  um pouco o seu desabafo, não resisti e comentei: “Ora, meu amigo, o País parece estar sendo consertado. E para que seja colocado nos trilhos de um mínimo de honradez e competência de governos sérios, não há outra saída senão DETONAR todos os corruptos. Não se desiluda nem pense que não vai sobrar ninguém. Vai, sim. Temos mais de 200 milhões de habitantes e não sei se será impossível encontrar entre eles pelo menos meia dúzia de pessoas honestas e com boas intenções.” Ou será? Credo!


Alex Ferraz é repórter e colunista diário da “Tribuna da Bahia” e solicitou a inclusão deste post no blog Os Inimigos do Rei.

Um comentário:

  1. Que monte de asneiras, que mediocridade. Para escrever este monte de esterco precisa ter curso universitário?

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