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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Lamentações

Ricardo Líper

1 - Nossa posição sempre foi de independência. Quer dizer, sem fazer propaganda ou aceitar calados grupos que se acham de esquerda ou os que são de direita.

2 - Mas, no jogo do poder, quando se critica uma dessas facções, a outra fica satisfeita e, portanto, nada ganhamos com isso.

3 - Não acredito mais em mudar a sociedade tomando o poder. O poder tem, e atrai por isso, uma lógica própria que é o autoritarismo e a corrupção. Sempre foi assim na imensa maioria de governos e na maioria dos países. Com momentos mais agudos que liquidam o país, como o Haiti, por exemplo, entre outros. Nós estamos estagnados, o que ocorre também com alguns países como o nosso. Dai se  criou um país incapaz de poder garantir a todos uma vida simples, mas digna. Existem estratégias do poder pelo poder que liquidam qualquer tentativa de se criar uma sociedade socialista e democrática no sentido real da coisa. 

4 - Por outro lado, a democracia como se conhece em países como o nosso, permite, mesmo sob uma capa democrática, através da burocracia excessiva, o exercício de uma ditadura sobre seus habitantes. Tem voto, elegendo o governo, tem constituição, mas também tem milhares de pequenas regras que permitem aos governantes exercer um poder absoluto baseado nas imensas firulas de pequenas leis dessa burocracia bem  manipulada por políticos espertos que sabem usar ditatorialmente as leis. 

5 - A história recente só é de decepção. Decepção essa com o socialismo que virou stalinismo, com a queda dos países socialistas em quase todo o mundo e com uma democracia que, nos parece, nem chegou perto do que se vê na Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Finlândia... O resto oscila entre uma democracia mais real e uma democradura, isto é, uma democracia burocrática que permite ao governo ter uma fachada democrática e exercer, em vários setores, um regime ditatorial atrasando o país e liquidando o povo. 

6 - Os libertários fizeram esse alerta desde a Primeira Internacional dos Trabalhadores e lá se vai mais de um século... 

7 - O que estamos presenciando hoje como mudança da vida das pessoas tem sido inspirado no pensamento de Foucault. Foucault descobriu que, em toda sociedade, o que existe são relações de poder. E, essas relações estão em todos os lugares. Entre o pai e os filhos, entre o professor e seus alunos, entre psiquiatras e os pacientes, entre médicos e doentes, entre vizinhos, entre o síndico e os moradores de prédios. Enfim, todos nós, em maior ou menor grau,  somos potencialmente fascistas e, por isso, gostamos de exercer nossos pequenos poderes como se fôssemos hitlerzinhos. A saída é a luta não só mais de classes mas, sem a menosprezar, mas a luta de todos os oprimidos nas relações de poder nessa luta pela sua liberdade sem teleologia, sem ficar esperando que no futuro viverão melhor através de um santo (partidos, ideologias, políticos) ou salvadores da pátria. O exemplo é o aqui e agora com a luta das mulheres, dos negros e outras tonalidades de cor e tipo de pálpebras e dos que exercem sua liberdade sexual. 
A sociedade muda, portanto, de baixo para cima e não de cima para baixo perseguindo uma utopia que será alterada pelos jogos de poder dentro do partido, do governo e do Estado. E o poder demagógico diante dessas lutas dos oprimidos, não pode ficar sem apoiar porque ele vive em uma democracia de votos e todo grupo grande de pessoas atrai o candidato, mesmo que ele não concorde com elas, ele tem de se curvar e exercer uma falsidade estratégica e política para se eleger. Vai, portanto, a reboque. 
 O que devemos fazer é cuidar de si, sermos os mestres nós mesmos. Relaxar. 

8 - Este blog é um blog Foucaultiano. A nossa política não fala de partidos nem de ideologias, mas da vontade de poder e vontade de saber para dominar. Para quê se perder tempo com os discursos de políticos de uma república de bananas de Terceiro Mundo ou com seus atos bizarros e cômicos ocupando nossa mente com isso quando podemos estar lendo Kafka e revendo Fellini? Kafka descreveu em seus livros, com precisão, o que é o Brasil. Acompanhe um processo, encare a burocracia de o castelo. Se vivesse aqui teria feito uma obra maior em volumes do que Balzac. A transformação que queremos é da sociedade para que todos vivam melhor. E isso não passa por nenhum tipo de partido, governo, quem foi eleito ou deixou de ser porque a diferença deles é a mesma de coca-cola para pepsi-cola. Tem alguma, mas tão tênue... Todos só querem o poder para exercer a democradura. E se um de nós se candidatasse e ganhasse teria a auto-decepção de perceber que o governo é uma besta magnífica, ele nos engoliria. Faríamos coisas que jamais pensamos em fazer e terminaríamos sendo uma simples peça de um grande circo de horrores. 

9 - Reveja esse lindo filme curto de Fellini: As Tentações de Dr. Antonio. É parte de Bocaccio 70. Deve estar disponível  no Youtube ou nas locadoras em DVD. Não é alegoria a nada nem criticando ninguém. Veja como ele criou uma obra de arte. Repare a integração da música com a imagem. Não é melhor do que as covardias (no sentido que os homens dão para injustiças) de nossos (e de outros países também) candidatos a qualquer coisa?










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