Por Joaquim Gonçalves
O Estado tem sido em todos os tempos o pilar mais forte da propriedade privada.
Expoente máximo do principio da autoridade, o Estado fundamenta sua razão de ser na defesa dos interesses das oligarquias dominantes e na necessidade de manter os interesses ilegítimos das classes usurpadoras. Por sua vez, a propriedade privada, sendo o mais poderoso sustentáculo do Estado legalista, é ao mesmo tempo a entidade em que este se apoia para a consecução dos seus fins, e, por conseguinte estes dois sistemas completam-se, não podendo um viver sem o auxilio do outro.
Se amanhã, por virtude dum qualquer movimento revolucionário, o povo tivesse a audácia necessária de proclamar a abolição do Estado, deixando, no entanto subsistir o monstruoso princípio da propriedade privada, não tardaria muito que a sua reconstituição se fizesse, posto que só ele podia fazer valer esse principio, pelas suas leis coercitivas e pela força bruta das suas armas.
Se, pelo contrario, o povo, fremente de revolta, suprimisse radicalmente a propriedade e consentisse que o Estado continuasse a predominar sobre a grande maioria dos indivíduos, aquela havia de fatalmente ressurgir, como principal elemento da vida desse monstro insaciável.
Estas duas forças são os mais fortes alicerces da sociedade capitalista, e, a sua existência se encontra perfeitamente delineada nestas sinistras seis palavras: Oprimir e escravizar as massas laboriosas.
Feita esta singela e despretensiosa exposição, chega-se a conclusão, lógica e inevitável, de que o primeiro passo a dar, após a Revolução Social, consiste em banir radicalmente estas duas fórmulas sociais e instituir, consequentemente, sobre a terra o Comunismo Anárquico, cujas generosas concepções se encontram impregnadas da mais elevada moral e possuem, a nortear a sua marcha, o brilho cintilante que caracteriza os grande ideais.
A teoria marxista, que propaga a extinção da propriedade privada e admite um Estado proletário para coordenar à vida da coletividade, tem sofrido dos libertários os mais vivos ataques, e tem que ser inevitavelmente repelida por todos aqueles que, amantes da Liberdade, não aceitam outra lei que não seja a sua consciência, nem se vergam a qualquer poder ditatorial por mais proletário e avançado que este se apresente.
O Comunismo é absolutamente antagônico com a propriedade privada. A Anarquia é a completa antítese da autoridade. Esta transforma o indivíduo num verdadeiro autômato, asfixia nele todas as faculdades de iniciativa, e os seus discricionários poderes servem apenas para oprimir e tiranizar os escravizados de todo mundo. Aquela, pelo contrário, procura restituir ao indivíduo toda a sua autonomia, desenvolver lhe as faculdades de raciocínio e assimilação, e o seu próximo advento fará brilhar em toda a imensidade terrestre o rutilo clarão vermelho da Libertação Proletária.
Entre estas duas força será travada uma luta homérica, sem precedentes, na qual a Anarquia sairá triunfante, fazendo baquear o Império das desigualdades sociais, para substituí-lo por uma causa nobre e justa, prenhe de amor e de justiça.
O Comunismo Libertário tem sido divulgado em todos os tempos por uma falange de puros idealistas, os quais, com o brilhar fulgurante das suas inteligências, o tem sabido impor a consideração de toda a humanidade, conseguindo dele fazer o querido evangelho das massas oprimidas.
Por todo o Universo, perpassa neste momento a mais forte rajada libertadora que tem assolado o velho mundo, e como um violento furacão arrasta, na sua passagem devastadora, Repúblicas e Monarquias, barretes frígios e testas coroadas.
O velho edifício burguês encontra-se periclitante. Os seus alicerces fragmentam-se pouco a pouco, atingidos em pleno pelas vigorosas machadadas da nossa propaganda redentora. A sociedade capitalista agoniza ao sopro vivificador dos modernos ideais. De toda esta podridão imunda que se estadeia ignobilmente ante os nossos olhos, exalam-se emanações fétidas que corrompem e envenenam o ambiente.
É necessário purificar toda esta montureira abjeta pelo fogo sagrado dos nossos fachos reivindicadores. Que na hora inevitável e grandiosa da derrocada, cada um de nós saiba encarnar o espirito rutilante do Ideal Anarquista, e a emancipação do povo dar-se-á pela ação direta das massas espoliadas, livres da influência daninha e perniciosa dos modernos “comissários do povo”.
Nesse momento a Humanidade será livre e feliz, porque, finalmente abatidos privilégios e preconceitos, na Terra será instituída uma nova moral, baseada no Bem, na Igualdade e na Liberdade, acabando por se esquecer na imensidade dos tempos a exploração odiosa e humilhante do homem sobre o homem.
Texto transcrito do Jornal O Libertário, Nº02, São Paulo, Janeiro de 1922
deixando o "positivismo" de lado..., temos de reconhecer que pouca coisa mudou nesses noventa anos e "as desigualdades sociais" continuam a nortear as nossa relações sociais!
ResponderExcluir