JORNAL
COMENTADO 67
Tony pacheco*
5:40 –
Quinta-feira – 07.03.2013
“Carismático
e explosivo, Chorão amealhou fãs e se envolveu em polêmicas”
(“Folha de
S. Paulo”)
“Solidão,
drogas e rock’n’roll”
(“Correio”)
“Polícia
suspeita de que morte de Chorão foi por overdose”
(“A Tarde”)
Passado o impacto inicial da notícia da morte de Chorão, as pessoas começam a fazer sempre as mesmas perguntas: “Por que uma pessoa tão bem sucedida na vida se mata deste jeito?”; “Por que um cara com tanto dinheiro fica sozinho?”; “Com tanta gente disponível pra um cara de tanto sucesso, por que um artista deste entra em depressão por ter acabado um casamento?” e por aí vai.
As
respostas que se vê são, na maioria (nem todas), toscas e não vão ao cerne da
questão.
Estou
rabiscando há dois anos um trabalho sobre “Psicanálise da Mente Artística”, no
qual somo minha experiência pessoal de produtor de bandas e, principalmente,
assessor de imprensa de vários artistas (junto com os admiráveis jornalistas Clécio
Max, Alex Ferraz e Marinaldo Mira), com os anos de estudo do comportamento
humano ao cursar Psicanálise numa instituição freudiana ortodoxa.
Para
entender por que uma Elis Regina, um Chorão ou uma Amy Winehouse morrem tão
jovens e tão ricos/famosos ao mesmo tempo, é preciso entender o porquê de o indivíduo
se tornar artista.
Primeiro
vem a Egolatria, a adoração de si próprio.
Segundo vem
a Egomania, que acredita que o mundo existe apenas para satisfazer os desejos do egomaníaco e reconhecer a
excepcionalidade do artista perante os outros humanos, todos “inferiores” a ele
e, portanto, destinados a aplaudir.
Terceiro
vem a Egodistonia, que é sofrer por sua condição artística. A Egomania e a
Egolatria levam o artista ao estrelato. Ele fica famoso, riquíssimo e cercado
de milhares de pessoas que querem comê-lo em todos os sentidos: financeiros,
emocionais, sexuais etc. Mas a Egodistonia impede que o artista vivencie isso
como o coroamento de sua carreira. Ele sofre porque acha que tudo pelo quê
lutou NÃO VALEU A PENA e cai em depressão. Há artistas que não são egodistônicos,
mas a maior parte é.
“E TEM
JEITO?”
Perguntam
as pessoas se tem jeito para uma situação como a vivida por Chorão. Se jogarmos
para a platéia, diremos que PRA TUDO TEM JEITO, mas se falarmos para adultos,
seremos sinceros e diremos que TEM JEITO, LÁ NO CÉU...
E por que
esta crueza? Porque pense bem: você, ser humano não-artista, tem coragem de
subir a um palco para, ali na frente, com todos as luzes viradas SÓ PRA VOCÊ,
sendo o alvo de 100 mil olhares, você tem coragem de começar a cantar qualquer
coisa e esperar ser APLAUDIDO??? Diga aí...
É isto que
acontece com o artista. Ele acha que tem uma sensibilidade, um talento e uma
coragem SUPERIORES A TODOS OS OUTROS SERES HUMANOS e, por isso, naturalmente ele
acha que será aplaudido numa situação em que qualquer ser humano comum ficaria
EM PÂNICO.
Lembre-se
só de uma situação em sua vida: quando no Primeiro Grau ou no Jardim da Infância
(Maternalzinho), a “pró” obrigava você a recitar ou cantar alguma coisa sobre o
Coelhinho da Páscoa, o Dia das Mães ou o Dia do Índio, você entrava em pânico? EU
ENTRAVA. E acho que a maioria passou por isso.
Um artista,
desde a mais tenra idade, NÃO ENTRA EM PÂNICO. Pelo contrário, ele vira para os
coleguinhas, IMPROVISA UMA DANÇA DE ÍNDIO e mesmo aos 5, 6 anos, já espera
aplausos da “pró” e dos amiguinhos. E normalmente consegue.
“There's no such
thing as a free lunch”
Atribuída
ao economista John Maynard Keynes, a frase significa, literalmente, “Não existe
almoço grátis”, ou no Português de nossas avós, “Tudo tem um preço, meu filho!”.
A
genialidade artística, baseada sempre em Egomania e Egolatria, tem um preço,
pois é igual à Internet: APROXIMA ENQUANTO AFASTA, AFASTA ENQUANTO APROXIMA.
Dos milhões
de fãs como os que Amy Winehouse tinha em todo o planeta Terra, talvez não houvesse
um sequer capaz de lhe dedicar algumas horas de conversa SEM LHE COBRAR UM
INGRESSO, UM VÍDEO, UMA GRANA, UM PRESENTE QUALQUER OU, NO MÍNIMO, UM AUTÓGRAFO.
O sucesso
absoluto nos torna alvo de INTERESSES ABSOLUTOS. Ninguém encara o artista como
um ser humano passível de PRECISAR DE AFETO. Pelo contrário: “Ah, este Chorão tem
a mulher que quiser”, é o pensamento corrente.
E não será
de outro jeito. Será um artista feliz aquele que tiver a Egomania e a Egolatria
e a Egodistonia sob controle. Mas, aí, não será tão famoso. Não terá tantos fãs
apaixonados. Não será tão rico.
O que
aconteceu com Chorão e com dezenas e dezenas de outros artistas e poderosos em
geral, desde que o mundo é mundo, é que QUEREM O SUCESSO, mas não querem pagar
o preço.
Nos
primeiros anos de carreira, DÃO UM LITRO DE SANGUE por um aplauso, uma
fotografia no jornal, uma citação num blog ou num site. Mas, quando ficam
milionários, acham que fãs, mídia, empresários, colegas de profissão, TODOS
QUEREM EXPLORÁ-LO e, daí, afastam todo mundo, para não serem explorados e batem,
então, uma solidão e uma paranóia QUASE incontroláveis.
Se Chorão
fosse um cantor medíocre, um compositor de músicas que ninguém lembra, ele
muito possivelmente estaria casado, com vários filhos, tendo uma vidinha mais
ou menos e VOCÊ, fã mais ou menos de um artista mais ou menos, estaria
lamentando agora?
Pense nisso
antes de chorar.
“DIRETOR DE
'SKYFALL' RECUSA NOVO BOND”
(“O Estado
de S. Paulo”)
Graças a
Mithra, todo poderoso! Sam Mendes, que deu feição FOFINHA ao mais recente James
Bond, “Skyfall”, decidiu não filmar mais nosso ídolo superpoderoso, que, na sua
versão, ficou fraco, cheio de dúvidas, quase um cliente de divã.
Agora,
tomara que o velho James, que mata primeiro e pergunta depois, volte rápido.
“Mulheres
chefiam 40% dos lares na Bahia"
(“Tribuna
da Bahia”)
Ora, ora,
ora, pelo quê as mulheres lutaram no Ocidente desde o movimento das “suffragettes”
há mais de 100 anos?
Lutaram
para ocupar, em igualdade de condições, todos os postos possíveis na sociedade.
Agora, é a
vez de pagarem as contas, coisa que o homem fez durante milênios.
Quem sabe
teremos um mundo melhor. Ou não. Tanto faz.
“Após
tumulto, é adiada eleição de pastor para comissão na Câmara”
(“Correio”)
A eleição
do pastor crente Marco Feliciano (PSC) para a presidência da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal é um daqueles preços intoleráveis
que um governo de coalizão cobra do partido-chefe.
O PT é o
partido que comanda o Brasil há 10 anos. Mas para manter este comando, tem que
fazer coalizão com várias legendas de aluguel, entre elas este Partido
Social-Cristão, que não passa de um ajuntamento de fundamentalistas religiosos
intolerantes e medievais.
Muito
provavelmente, todos os líderes e militantes do PT estejam MORTOS DE ÓDIO por o
PSC ter colocado como candidato justamente um sujeito que tem fama de “racista
e homofóbico”.
Mas, é
assim na democracia. Agora, cabem aos movimentos das mulheres, dos negros, dos índios,
dos homo-afetivos e TODAS AS PESSOAS DE BEM, transformarem a vida deste pastor
crente NUM INFERNO.
Infernizar
a vida dele, também é democracia. Mãos à obra!
* tony Pacheco estudou Psicanálise, Economia, Radialismo e Jornalismo e acha que aprendeu alguma coisa. Acha...
Que inocencia é essa Toni Pacheco. Se o PT se vendeu a Renan porque nao vai se vender ao pastor?
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