6:21 – 20.12.2012
O QUE LEVA
O MARIDO A ASSASSINAR A EX-ESPOSA?
(Correio)
É o que se
discutia, ontem, em nossa casa, com nossa secretária e o motorista. Ela dizendo
do “absurdo” da violência contra a mulher, tudo sempre resolvido com
assassinato. E o motorista dizendo que “com tanta mulher sobrando em Salvador e
este idiota se mata por causa de uma”.
Só que o
buraco é um pouco mais em baixo. Uma análise superficial do caso se vê uma
mulher bonita, bem resolvida, com uma clínica num dos endereços mais caros da
Bahia. E, de outro, uma pessoa que não era assim uma Brastemp. Dublê de
corretor e gerente de loja. Ainda jovens e, portanto, um deles, pelo menos,
ciente de que tinha cabedal para retomar sua vida a qualquer momento,
justamente o cônjuge mais bem-sucedido e mais apetrechado, simplesmente
demonstrava o desejo de acabar a relação. E, aí, entra o leitmotiv: a baixa
auto-estima do cônjuge que não tem as mesmas condições do outro. Ou não tem
mais jovialidade, ou não tem beleza, ou não é destemido, ou não tem recursos
financeiros, enfim, o desequilíbrio da balança prejudica aquele que, por isso
mesmo, desenvolve uma baixa auto-estima, achando que o cônjuge mais
bem-sucedido é, na verdade, UM PRÊMIO DE MEGA-SENA ACUMULADA. O despossuído
acha que ganhou uma vez ao casar com aquela criatura “maravilhosa” e que se a
perder, não encontrará outra, “jamais”.
Claro que
esta interpretação que a cabeça dele dá ao relacionamento é totalmente
equivocada, gerada por um transtorno emocional. Mas, sem o acompanhamento de um
profissional da área comportamental (e, isso, aqui no Brasil, pelo menos, é coisa de ficção, não temos
nem teremos...), ele simplesmente vê o assassinato
acompanhado de suicídio como a solução que impedirá a companheira de ser feliz
com outro e ele passar por fracassado.
E, aí,
nossa secretária arrematou: “Mas nem pensou nas filhas!”
Ora, ora,
ora! Chegamos a este mundo sozinhos e vamos embora sozinhos também. Todos os laços
que criamos, inclusive tendo filhos, são todas tentativas para DAR UM SENTIDO
AO NOSSO MUNDO e não ao mundo dos outros, sejam filhos, esposos, pais etc. Até quando somos generosos, carinhosos, estamos querendo ser isso para NOS SENTIRMOS BEM CONOSCO. Na
hora do desfecho, pensamos em nós e ponto final, por mais horrível que isso
possa parecer aos corações carinhosos.
“Marcas
urbanas”
(Correio)
A Ópera de Sydney tem uma das mais caras manutenções do planeta: 7 milhões de libras anuais, ou mais, de prejuízo.
A Ópera de Sydney tem uma das mais caras manutenções do planeta: 7 milhões de libras anuais, ou mais, de prejuízo.
Meu saudoso
amigo Quinho Nery (porque não o vejo pessoalmente há uma década), fez um
editorial no “Correio” desta quinta-feira, 20.12.2012, véspera do fim do mundo,
sobre um assunto preocupante: ele defende a tese de que edificações monumentais
têm que ser feitas, a qualquer preço, pois elas se tornam emblemas das cidades
onde são edificadas.
Uma destas “marcas
urbanas”, a Ópera de Sydney, continua sendo, até hoje, objeto de um verdadeiro
BA-VI na Austrália (a maioria BA, quer demolir o prédio, e a minoria VI, quer mantê-lo), pois era para ficar pronta em dois anos, mas demorou 13
anos (como vemos, nosso metrô ainda tem três anos para bater este recorde). A ópera foi orçada em 5 milhões de libras esterlinas. Custou 55 milhões. Mas, o mais
absurdo, nosso Quinho não disse: o arquiteto que ganhou o concurso, o falecido
dinamarquês Joern Utzon, era da mesma linhagem de Niemeyer, aquele arquiteto
que desenha coisas para não se usar. Desenham monumentos, como uma pirâmide,
um obelisco. Joern teve que renunciar ao projeto e entregar a quatro outros
arquitetos que foram encarregados de TORNAR EXPLORÁVEL a ópera, cujo projeto
original de Utzon previu uma sala de ópera tão pequena que continua não sendo
rentável até hoje. Aliás, de 2000
a 2005, foi gasta a mesma quantidade de libras
esterlinas para MANTER O EDIFÍCIO DE PÉ que foi usada em sua construção. O
governo australiano faz campanhas públicas de doação permanentes para a manutenção,
pois é um buraco sem fundo, já que Utzon planejou um monumento que não se paga.
E, por
falar nisso, nós já temos um monumento assim em Salvador. É o Elevador Lacerda,
um equipamento que dá UM PREJUÍZO MONUMENTAL à Prefeitura Municipal do
Salvador. É bonito? É. É insólito? É. É uma “marca urbana”? É. Mas suas cabines
vivem PARADAS porque a manutenção, principalmente das duas cabines que ficam dentro da
montanha, é CARÍSSIMA. Como vivemos numa cidade paupérrima, não se pode cobrar
caro pelo deslocamento. Como vivemos numa cidade que não é mais um destino turístico,
não vêm aqui mais tantos turistas que possamos transformar o equipamento num
atrativo para cobrar bem caro, mas só deles (tipo a tarifa da Tour Eiffel). E,
aí, temos um elefante branco levando dinheiro público que poderia ter melhor
serventia na educação, na saúde e até no asfaltamento das ruas, pois o Lacerda dá um prejuízo anual de 2,5 milhões de reais, pois sua tarifa ridícula de 15 centavos não dá pra pagar nem o pessoal da limpeza, quanto mais mantê-lo funcionando...
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