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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

JORNAL COMENTADO 23

TonY PacheCo

6:21 – 20.12.2012

O QUE LEVA O MARIDO A ASSASSINAR A EX-ESPOSA?

“Vilas: casal se separou várias vezes”
(Correio)

É o que se discutia, ontem, em nossa casa, com nossa secretária e o motorista. Ela dizendo do “absurdo” da violência contra a mulher, tudo sempre resolvido com assassinato. E o motorista dizendo que “com tanta mulher sobrando em Salvador e este idiota se mata por causa de uma”.
Só que o buraco é um pouco mais em baixo. Uma análise superficial do caso se vê uma mulher bonita, bem resolvida, com uma clínica num dos endereços mais caros da Bahia. E, de outro, uma pessoa que não era assim uma Brastemp. Dublê de corretor e gerente de loja. Ainda jovens e, portanto, um deles, pelo menos, ciente de que tinha cabedal para retomar sua vida a qualquer momento, justamente o cônjuge mais bem-sucedido e mais apetrechado, simplesmente demonstrava o desejo de acabar a relação. E, aí, entra o leitmotiv: a baixa auto-estima do cônjuge que não tem as mesmas condições do outro. Ou não tem mais jovialidade, ou não tem beleza, ou não é destemido, ou não tem recursos financeiros, enfim, o desequilíbrio da balança prejudica aquele que, por isso mesmo, desenvolve uma baixa auto-estima, achando que o cônjuge mais bem-sucedido é, na verdade, UM PRÊMIO DE MEGA-SENA ACUMULADA. O despossuído acha que ganhou uma vez ao casar com aquela criatura “maravilhosa” e que se a perder, não encontrará outra, “jamais”.
Claro que esta interpretação que a cabeça dele dá ao relacionamento é totalmente equivocada, gerada por um transtorno emocional. Mas, sem o acompanhamento de um profissional da área comportamental (e, isso, aqui no Brasil, pelo menos, é coisa de ficção, não temos nem teremos...), ele simplesmente vê o assassinato acompanhado de suicídio como a solução que impedirá a companheira de ser feliz com outro e ele passar por fracassado.
E, aí, nossa secretária arrematou: “Mas nem pensou nas filhas!”
Ora, ora, ora! Chegamos a este mundo sozinhos e vamos embora sozinhos também. Todos os laços que criamos, inclusive tendo filhos, são todas tentativas para DAR UM SENTIDO AO NOSSO MUNDO e não ao mundo dos outros, sejam filhos, esposos, pais etc. Até quando somos generosos, carinhosos, estamos querendo ser isso para NOS SENTIRMOS BEM CONOSCO. Na hora do desfecho, pensamos em nós e ponto final, por mais horrível que isso possa parecer aos corações carinhosos.

“Marcas urbanas”
(Correio)

A Ópera de Sydney tem uma das mais caras manutenções do planeta: 7 milhões de libras anuais, ou mais, de prejuízo.

Meu saudoso amigo Quinho Nery (porque não o vejo pessoalmente há uma década), fez um editorial no “Correio” desta quinta-feira, 20.12.2012, véspera do fim do mundo, sobre um assunto preocupante: ele defende a tese de que edificações monumentais têm que ser feitas, a qualquer preço, pois elas se tornam emblemas das cidades onde são edificadas.
Uma destas “marcas urbanas”, a Ópera de Sydney, continua sendo, até hoje, objeto de um verdadeiro BA-VI na Austrália (a maioria BA, quer demolir o prédio, e a minoria VI, quer mantê-lo), pois era para ficar pronta em dois anos, mas demorou 13 anos (como vemos, nosso metrô ainda tem três anos para bater este recorde). A ópera foi orçada em 5 milhões de libras esterlinas. Custou 55 milhões. Mas, o mais absurdo, nosso Quinho não disse: o arquiteto que ganhou o concurso, o falecido dinamarquês Joern Utzon, era da mesma linhagem de Niemeyer, aquele arquiteto que desenha coisas para não se usar. Desenham monumentos, como uma pirâmide, um obelisco. Joern teve que renunciar ao projeto e entregar a quatro outros arquitetos que foram encarregados de TORNAR EXPLORÁVEL a ópera, cujo projeto original de Utzon previu uma sala de ópera tão pequena que continua não sendo rentável até hoje. Aliás, de 2000 a 2005, foi gasta a mesma quantidade de libras esterlinas para MANTER O EDIFÍCIO DE PÉ que foi usada em sua construção. O governo australiano faz campanhas públicas de doação permanentes para a manutenção, pois é um buraco sem fundo, já que Utzon planejou um monumento que não se paga.
E, por falar nisso, nós já temos um monumento assim em Salvador. É o Elevador Lacerda, um equipamento que dá UM PREJUÍZO MONUMENTAL à Prefeitura Municipal do Salvador. É bonito? É. É insólito? É. É uma “marca urbana”? É. Mas suas cabines vivem PARADAS porque a manutenção, principalmente das duas cabines que ficam dentro da montanha, é CARÍSSIMA. Como vivemos numa cidade paupérrima, não se pode cobrar caro pelo deslocamento. Como vivemos numa cidade que não é mais um destino turístico, não vêm aqui mais tantos turistas que possamos transformar o equipamento num atrativo para cobrar bem caro, mas só deles (tipo a tarifa da Tour Eiffel). E, aí, temos um elefante branco levando dinheiro público que poderia ter melhor serventia na educação, na saúde e até no asfaltamento das ruas, pois o Lacerda dá um prejuízo anual de 2,5 milhões de reais, pois sua tarifa ridícula de 15 centavos não dá pra pagar nem o pessoal da limpeza, quanto mais mantê-lo funcionando...
“Marcas urbanas” são lindas, mas quando o povo que as constroem tem dinheiro suficiente para mantê-las. Se não, tendem a cair ou levar seus povos à ruína...
Elevador Lacerda: lindo, mas um prejuízo de 2,5 milhões de reais por ano.

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