Que tal tirar os baianos de Salvador?

Alex Ferraz

* publicado na minha coluna Em Tempo, na TRIBUNA de 01.02.2012


Ouvindo na excelente rádio Metrópole um debate sobre o porquê de as festas de largo estarem morrendo, senti que se falou de tudo, menos do que me parece mais óbvio e, sempre, o simples, o óbvio, é que esconde a razão de todas as coisas: estão mudando à força o nosso “ethos”, o que costumamos chamar “baianidade”. Se não, vejamos:
1) Retiraram as barracas das praias de Salvador, local onde nós,baianos, nos fins de semana, realizávamos “babas”, sambões, enfim, confraternizávamos depois de uma semana de luta deste povo que trabalha mais que qualquer outro no Brasil e recebe salários pífios, ao contrário do que diz a mídia do Sul, de que somos “preguiçosos”. Pelo contrário, trabalhamos mais e ganhamos menos e, aí, compensamos com nossa alegria, para não dar um tiro na cabeça.
2) Proibiram som nos carros e festas, em toda a cidade. Hoje, o baiano que quer confraternizar com amigos ao som de um pagode ou axé é tido como criminoso. Seu carro é apreendido. E se estiver fazendo um churrasco na sua laje e colocar o som alto, é preso, ou, pelo menos, perde o som.
3) Proibiram as carroças e os jegues (um não vive sem o outro) na Lavagem do Bonfim, justamente o evento que gerou um concurso maravilhoso no qual brilhou várias vezes minha colega jornalista Sônia Araújo, com a carroça ricamente decorada e ela de baiana típica.
4) Agora, proíbem os carros de som na Festa de Yemanjá, dia do meu aniversário (hehehehehehe).
Então, não é preciso muita elucubração: o que está destruindo as festas de largo são os governos, em todos os níveis, que, com suas reiteradas medidas autoritárias, estão transformando a cultura baiana numa coisa execrável, digna de repressão. Só isso.

Frase:
“Já que não gostam da cultura do povo baiano, deviam retirar todos os baianos de Salvador. Estaria resolvido o problema.”
(Tony Pacheco, jornalista, no Twitter)