Filmes Comentários

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pinheirinho é logo ali...

Carlos Baqueiro
cbaqueiro@terra.com.br

Pinheirinho não deixa de ser um espelho da sociedade brasileira. Capitalismo selvagem, violência urbana, alienação, autoritarismo patriarcal, desigualdade, etc, etc, etc...

Viver é recordar... trago de volta um texto que escrevi no blog Notícias da Cidade, em julho de 2007, quando fazia o curso de jornalismo na Faculdade da Cidade de Salvador. O texto fala um pouco de tudo aquilo.

.....

Esta semana que passa nos deixa uma capa de revista semanal para reflexão sobre o que queremos do jornalismo. 

A Revista Época mostra na capa uma imagem digna dos melhores filmes de Sylvester Stallone, ou de Chuck Norris, quando os personagens representados por aqueles atores chegam, atiram, matam e depois vão embora. 


Dando continuidade à cena, um "Cavaleiro Jedai" com todo aparato de soldado de Guerra nas Estrelas andando entre corpos de “Monstros Extra-Terrestres” jogados entre corredores apertados de uma nave interestrelar. 


O que se poderia querer mostrando uma situação dessas ? Reforçar a idéia de um mundo cinematográfico entre nós ? Um mundo em que podemos facilmente reconhecer “bandidos” e “mocinhos” ? 


Mas não é difícil perceber que no chão estão seres humanos, e não ETs monstruosos. Passando por eles não está nenhum Luke Skywalker, mas também um ser humano, chamado pelos seus iguais de policial militar. 


Tornar coisas que não são naturais, mas sim determinadas pelas condições históricas, em naturais, devido a serem cotidianas e rotineiras, como a desigualdade social, por exemplo, ou a morte de 19 seres humanos em becos da periferia, não é uma responsabilidade única do jornalismo. Mas é evidente que o jornalismo também administra este tipo de deformação nas suas funções. 


É desnecessário se colocar aqui os motivos da desigualdade, já há lugares onde isso é possível de ser visto e revisto. Uma fonte confiável é o IBGE. Também é desnecessário que falemos o mesmo lugar comum de que a cor da pele, ou a renda mensal são motivos para perseguição e tortura. 


Mas não é desnecessário se dizer (penso que espaços autônomos, como este blog, têm essa função) que toda a culpa não deve recair somente sobre as políticas públicas de Estado. 


Na introdução ao seu livro "Práticas Cotidianas e a Naturalização da Desigualdade, Uma Semana de Notícias nos Jornais", Mary Jane Spink, nos dá o ar de suas análises: "A desigualdade não é um azar histórico, um vírus que se propaga pelo ar e, muito menos, uma conspiração de um grupo restrito. A desigualdade é sustentada no cotidiano pelas ações de todos, ao impor, ao aceitar ou ao considerar que algo é normal". 


E completa: "Naturalizar quer dizer tratar algo como normal, como dado e como parte do dia-a-dia; tão óbvio quanto o sol da manhã e a chuva da tarde". 


Você gostaria de ser tratado como as pessoas da foto a seguir ? 

 

Revista Época, 26 de Setembro de 2005 

Aquela é a forma como se tratam os “suspeitos” e “bandidos” das favelas e bairros pobres. Silvia Ramos, autora do livro "Elemento Suspeito", é citada em outra edição da própria Revista Época passando-nos a informação de quem são os tais suspeitos, a partir de uma pesquisa em 2.250 entrevistas domiciliares no Rio de Janeiro: Homens, de 15 a 24 anos, negros, com renda de um a três salários mínimos, morando dentro ou em torno de favelas. 

Não é difícil perceber que um dos grupos sociais que mais contribui para as naturalizações de fatos relacionados à violência, à pobreza, ao escárnio político, são os jornalistas. Principalmente aqueles responsáveis pelas editorias de TVs. Ali eles têm de reduzir a notícia a níveis pretensamente aceitáveis (na visão deles próprios) para o intelecto de um determinado cidadão médio (determinado pelos próprios editores). Além das necessidades das próprias grades de programação que são criadas em prol das necessidades financeiras das organizações de comunicação. 


Assim, jogam as notícias a ermo. Sem nenhum, ou quase nenhum, vínculo histórico, político ou filosófico. Sem qualquer contextualização, os fatos vão se amontoando nas mentes dos espectadores como se não tivessem nenhuma ligação entre si, narcotizando-os, e naturalizando os acontecimentos. 


Tudo como espetáculo, e como construção de um mundo que só existe na mente dos editores de mundo, nos “cineastas” das editorias das revistas, jornais, etc.

4 comentários:

  1. o texto é ótimo...

    mas uma existe alguns pequenos senões:

    1.- na grécia antiga, platão reclamava para os filósofos o direito de "pensar" e gerir a sociedade;

    2.- no século dezenove, marx exigia para os economistas essa função de tecnocrata;

    3.- hoje vemos "jornalistas", "professores" e outros puxando para si o maior pedaço do chouriço!

    vemos, pois, a especialização de uma função que deve ser de todos: gerir a própria vida coletiva...

    ass.: acéfalo do j. c.

    ResponderExcluir
  2. é desse jornalismo que eu gosto, curto e grosso:

    "homens, negros e pobres", em suma os FRACASSADOS que não conseguiram nada na vida e destilam seu ódio...

    ass.:

    descerebrado da mata escura

    ResponderExcluir
  3. peço aos "iluminatis" um minuto da sua atenção para a seguinte reflexão:

    "Declaramo-nos filósofos ou escritores, devemos nos confessar impostores. Não existe pensar verdadeiro que o sentido de sua indignidade não escolte. A única maneira de sair desse atoleiro, pelo menos em parte, é exibir o inelutável. (...) De modo que o que ameaça o trabalho de pensar (ou de escrever) não é ele permanecer episódico, é ele fingir-se completo."

    jean-françois lytoard

    ResponderExcluir
  4. Duvido que algum sociologo ou jornalista crítico do trabalho da polícia tenha culhão para colocar um colete e entrar numa favela, acompanhando in loco a "discriminação". A maioria dos intelectualoides de botequim são mero engenheiros de obras prontas, excelentes de críticas. E só.

    ResponderExcluir