Alex Ferraz
Do saudoso e genial Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) tomo emprestada a ideia deste título.
Seguinte: nos últimos dias, atendendo à necessidade que meu ofício me obriga como editor desta folha, além de colunista, ao assistir, como sempre, noticiários de todas as redes nacionais, mais uma vez fiquei chocado com certas notícias e/ou a forma de narrá-las.
Por exemplo, anteontem, em reportagem sobre a destruição causada pelas chuvas em Minas Gerais, mais especificamente na cidade histórica de Ouro Preto, o repórter questionava uma autoridade municipal sobre o desabamento de um morro e obteve esta pérola de resposta: “Foi uma fatalidade. A montanha andou. É uma coisa bíblica” (coitado de Maomé).
Ontem, ouvindo as chamadas do Fantástico para uma denúncia sobre a adulteração de bombas para roubar motoristas que abastecem seus carros (quero é novidade!), o locutor dizia que o esquema tem a finalidade “de lesar o consumidor sem que ele perceba”. Teria graça se tentassem lesar com um esquema que fosse percebido...
Também ontem, no programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios, a matéria discorria sobre uma invenção brasileira, qual seja a da “madeira ecológica”, que nada mais é do que um material imitando a natureza, fingindo ser madeira, feito a partir da reciclagem de plásticos. O repórter chamava a atenção para a “importância ecológica” do feito, visto que o plástico demora séculos para ser destruído no meio ambiente. Aí, o inventor da “madeira” anuncia uma qualidade do seu produto: enquanto a madeira de verdade se deteriora em cinco ou seis anos, a “invenção ecológica” pode, conforme as palavras do empresário, “durar, INTACTA, até 300 anos.”
Olha, me batam com uma cacetada na cabeça, mas, por favor, que seja com madeira de árvore. Mas não precisa ser da Amazônia.
De chuvas e
solidariedade (I)
Em princípio devo dizer que, para mim, a solidariedade e a gratidão, esta consequência da primeira, são duas virtudes do ser humano.
Porém, quando vejo uma imensa população ameaçada por desabamentos e enxurradas, nas chuvas do Sudeste, ficar à mercê de favores de vizinhos e de algumas raras pessoas que, a despeito de privilegiadas socialmente, não se esquecem do próximo, fico a pensar para onde vão os trilhões de reais arrecadados em impostos neste país. É, porque antes da solidariedade do vizinho, do bom samaritano em geral, deveria chegar aos locais de desastre a ajuda profissional dos técnicos da Defesa Civil.
De chuvas e
solidariedade (II)
Entre as visões patéticas na cobertura jornalística, pela TV, dos desastres (os mesmos de décadas seguidas) provocados pelas chuvas no Sudeste, eis que surgem imagens de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, mostrando um preposto da Defesa Civil seminu (usando apenas um calção), sem máscara, enfim, desprovido de qualquer proteção, nadando e mergulhando nas águas imundas da enchente para tentar afundar cabos de fibra ótica que, boiando, funcionavam como “barragem” para o escoamento do lixo na água.
Nada mais a dizer, exceto que - lembro-me agora - a prefeita é Rosinha Garotinho. Êita!
De chuvas e
solidariedade (III)
Frase de um desabrigado contumaz e, ainda assim, desesperado, após ter a casa invadida pelas águas em Minas Gerais: “A gente já não aguenta mais trabalhar para comprar móveis, todo ano.”
Ah, sim: o governo federal liberou o saque antecipado do Bolsa Família para os atingidos pelas cheias. Basta seguir uma “pequena burocracia” (leia-se; filas humilhantes maus tratos por funcionários públicos etc.) Coitado do povo brasileiro!
Ainda sobre
solidariedade
Festa, no último sábado, na Favela da Rocinha, recém ocupada (sic) pela forças de segurança. Um novo programa social? Mais empregos? Nada disso! O povo entrou em êxtase com a distribuição de algumas centenas de quilos de sardinhas apreendidas por terem sido pescadas em período de defeso. E os trilhões em impostos, vão para onde, diante de tanta esmola humilhante?
(Coluna Em Tempo, na Tribuna da Bahia)
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