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domingo, 29 de janeiro de 2012

Coitado do Brasil indo pro ralo sem saber




Ricardo Líper


O desemprego é, de longe, o maior problema que nós temos. Eu, adepto de São Tomé, não acredito no que os discursos oficiais dizem a respeito. Só acredito no que vejo. O resto é discurso, no sentido dado à palavra por Foucault, isto é, conversa mole para boi dormir. 
Sim, tem uma misteriosa crise. A crise mundial. A crise. Mas vou falar do que vejo e não da crise mundial. 
Para se abrir uma empresa, pequena, fodida, para ganhar alguns trocados e empregar um miserável, é um pesadelo. Uma portinha para vender doces, por exemplo, e empregar alguém do subúrbio para ser balconista. A burocracia, a série de impostos, embora a maquiagem de empresa simples, é como se você tivesse abrindo um shopping center. Para ficar tudo em dia precisa de um contador ou você ser um contador. São tantas as taxas e leis que nenhum contador consegue dominar. Há o INSS. Aí você luta, luta e abre. É assaltado. Uma vez, duas vezes, três vezes. Quase morre no último. Assalto branco. Fiscais todos os dias querendo dinheiro, lhe chantageando. Contas de luz feéricas. E aí você descobre que fechar uma empresa é caro e quase impossível. Resultado: grandes empresas, pequenos negócios. Pequenas empresas, nenhum negócio. Só dívidas. O brasileiro então sonha ser jogador de futebol, cantor de banda famosa, vereador, deputado etc. Para comer, minha gente, se dar bem na vida, isso, apenas isso. Ninguém pense que o brasileiro é contra a corrupção, ele quer é participar. Ele admira o político ladrão. A indignação é por inveja. Acaba logo quando é convidado para participar. Ele vive morrendo de fome e desempregado, minha gente. Teve um sujeito da política, não me lembro mais o nome nem se estava sendo sincero, que queria acabar com a burocracia. Aí aplicaram o brasileirismo nele: fingimos que fazemos quando nada estamos fazendo. Maquiagem. Êta povinho inteligente... Mas caminha para o ralo porque o caos na vida diária de todo mundo, que é o que importa de fato, maquiado de desenvolvimento, já chegou. 

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