Em "homenagem" a redução do número de ditadores no mundo, posto hoje aqui o trecho inicial de um texto que saiu na edição 22, do jornal O Inimigo do Rei, em 1988.
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Só Cuba, atualmente, e
o Uruguai, no auge da ditadura fascista pré-Sanguinetti, conseguiram
a proeza da Líbia: ter mais de 10% de sua população no exílio.
Sim, porque mais de 350 mil líbios estão refugiados em mais de 30
países, principalmente os da Europa Ocidental. Mas, mesmo no exílio,
eles não estão totalmente livres das pressões da ditadura que
vigora em seu pais de origem. A Policia secreta do coronel Kadafi, a
Mukhabarat, tem comandos que vez por outra assassinam alguns líderes
oposicionistas no exterior. Esta prática, aliás, a partir de 1980,
levou vários países europeus a ameaçarem romper relações com
Tripoli.
As vésperas de
completar 20 anos no poder (ele tomou a chefia do Estado líbio do
rei Idris I em 1º de setembro de 1969), Kadafi chegou ser confundido
nos anos seguintes ao golpe de 69, com um agente da CIA, já que suas
alianças com regimes e grupos terroristas reacionários mais o
colocavam à direita do que à esquerda do espectro político. Basta
ver que já financiou os fascistas argentinos em suas campanhas de
terror, a ala direita do IRA e ja procurou alianças com dirigentes
como Habib Bourguiba, da Tunisia, e Hassan II, do Marrocos. Ou, o seu
apoio mais tragicómico, sustentar o ditador de Uganda, Idi Amin
Da-da, nos últimos anos de seu regime em Kampala, quando Kadafi
mandou 3 mil soldados líbios (que ele chamava de "voluntarios
civis") para tentar deter o avanço da oposição que partiu da
Tanzânia e do Quenia para derrubar o sanguinário ditador de
opereta.
A jornalista Oriana
Fallaci. que entrevistou Kadafi na própria Libia, dá uma explicação
para esta confusão ideológica que Kadati faz, sustentando grupos e
governos fascistas, e ao mesmo tempo, mantendo-se na vanguarda do
movimento revolucionário mundial apoiando os palestinos mais
radicais, por exemplo. Segundo Fallaci, "clinicamente falando, Muamar Kadafi é um louco".
Mas um louco não
conseguiria manter-se tanto tempo no poder. Em verdade, Kadafi é o
exemplo clássico do ditador que soube fazer carreira fazendo uma
sólida base popular, igual aquela que Pinochet montou entre a classe
média chilena, que lhe permite sufocar em sangue e miséria a classe
operária do Chile.
Kadafi, cujo nome vem
de uma tribo beduína, os Khadafeden, nasceu numa tenda a 500 km de
Tripoli em 1942. Sua formação intelectual era fortemente
influenciada pelo fundamentalismo islâmico da aristocracia
militarista do exército do rei Idris I. Daí inclusive, a
insistência de Kadafi em misturar socialismo com islamismo, coisas
absolutamente excludentes, como qualquer pessoa medianamente
inteligente pode ver, já que o socialismo é ateu, pois desde os
seus primórdios entende que a religião é o principal instrumento
de alienação da classe operária, haja vista que a promessa de um
céu após a morte é um poderoso alienante, que distrái os
proletários de sua tarefa de libertar-se da sociedade de classes
que os mantêm na miséria atual.
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Quem estiver a fim de ver o jornal na íntegra, prá matar a saudade, segue o link.
https://picasaweb.google.com/104336729701655016518/OInimigoDoReiN22
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