___________________________
Carlos Baqueiro
cbaqueiro@terra.com.br
Há alguns anos estamos vendo o crescimento da direita, e da extrema direita, nas eleições européias. França, Áustria, Países Nórdicos... Seria muita ingenuidade acharmos que as mortes de Hitler e Mussolini enterraram o nazismo e o fascismo para o local que mereceriam no Inferno.
Os atentados ocorridos na Noruega, por parte de um louco nazista (estou sendo redundante), podem mesmo ser vistos como a ponta do Iceberg da retomada de uma ideologia que assassinou milhões de judeus, ciganos, anarquistas, comunistas, e todo tipo de gente, em nome de um fundamentalismo político e religioso.
Tem gente no Brasil que se surpreende com a posição de outras tantas pessoas, aqui mesmo do nosso país, que concordam com as ideias nazifascistas. Entre elas toda a verborreia racista que foi usada pelo nazista norueguês para escrever um manifesto de propaganda.
No manifesto ele cita algumas vezes o Brasil, sugerindo que um país tão miscigenado como o nosso, não poderia dar certo. Toda essa mistura entre “raças” seria a culpada pelos “altos níveis de corrupção, falta de produtividade e em um conflito eterno entre várias culturas”(1).
Quando se fala de Racismo no Brasil, muita gente se lembra do Conde Arthur de Gobineau. O sujeito foi enviado ao Rio de Janeiro, por Napoleão III, para uma missão diplomática, durante os anos de 1869 e 1870. Adorava o imperador Dom Pedro II. Aliás, era a única coisa que ele gostava no Brasil.
Ele odiava o país, e seu povo mestiço:
Mas se, em vez de se reproduzir entre si, a população brasileira estivesse em condições de reduzir ainda mais os elementos daninhos de sua atual constituição étnica, fortalecendo-se através de alianças de mais valor com as raças europeias, o movimento de destruição observado em suas fileiras se encerraria, dando lugar a uma ação contrária(2).
Mas, longe do etnocentrismo europeu, muitos brasileiros teorizaram sobre a incapacidade de um povo misturado poder galgar posições civilizatórias satisfatórias.
Um desses brasileiros foi o médico baiano Nina Rodrigues. Discípulo de homens como Darwin, Augusto Comte e Cesari Lombroso, este último defensor da pretensa ciência que afirmava a inferioridade de algumas "raças" ante a superioridade de outras. Nina Rodrigues foi um pesquisador perspicaz da vida dos negros na primeira década do Sec.XX. Mas algumas de suas conclusões são obviamente sintomas de uma época:
A Raça Negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros dos seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como povo(3).
O pensamento racista não é mais nem menos humano do que qualquer outro pensamento. Faz parte de posicionamentos históricos tomados por indivíduos desejando entender o ser humano. Lembremos que o grego Aristóteles não acreditava que os escravos pudessem ser tratados igualmente com os outros gregos, pois eram "Escravos", e não "Homens". A estupidez da violência contra o outro nasce das necessidades, dos desejos conscientes e inconscientes, das diversas culturas. A mulher em alguns países árabes pode ser punida se fizer sexo menstruada. Ao homem traído, em algum momento no Brasil, já foi permitido legalmente a vingança, até mesmo com a morte da mulher.
Infelizmente, como vimos nas explosões e tiros na Noruega, a estupidez não é algo do passado. Estaremos sempre com ela ao nosso lado, a nossa frente, em nosso redor, dentro de nós.
O que sempre nos tornou e continuará nos tornando seres humanos é a capacidade de resistir e escapar a essas ideias estúpidas que negam uma humanidade ao mesmo tempo única e diversa.
Além das fontes que já coloquei no próprio texto quem quiser entender um pouco mais de Racismo no Brasil deve ter em mãos o livro O Espetáculo das Raças, de Lilia Moritz Schwarcz, da Companhia de Letras.