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Carlos Baqueiro
(cbaqueiro@terra.com.br)
Há 75 anos atrás, no mês de julho de 1936, o povo espanhol saía para as ruas, contra um Golpe de Estado executado pelos militares, liderados pelo General Francisco Franco, que era apoiado pela Igreja Católica, parte da burguesia e latifundiários.
O povo, literalmente, sai as ruas de Barcelona, de Valença, de Madrid, liderados principalmente por marxistas, trotskistas e anarquistas. Mas também saiu as ruas nas pequenas aldeias, e vilas. Montavam barricadas e, armados, chegaram a tomar as prefeituras, os quartéis e órgãos públicos, e também as igrejas.
Enquanto as Forças Armadas tomavam a Galícia, e outras as regiões ao norte, e também a Andaluzia, ao sul, aqueles que lutavam contra o Golpe, tentando manter viva a democracia conseguida a muito custo com a queda da Monarquia alguns anos antes, mantinham a Catalunha e a a região de Castela, dentre outras menores.
A "Nova República" tentava sobreviver com apoio de trabalhadores urbanos e camponeses, de parte da burguesia espanhola, e de toda a esquerda. Mas em pouco tempo as alianças que permitiram a resistência contra Franco foram se dissipando. A falta de apoio de países como França e Inglaterra (que talvez tivessem mais medo de uma vitória da esquerda do que dos fascistas, mesmo com a Alemanha e a Itália apoiando os golpistas sem qualquer ressalva), foi um fator preponderante.
Durante o processo o qual alguns chamam de Guerra Civil e outros de Revolução (dependendo dos desejos ideológicos), a União Soviética, sob o governo de Stalin, resolve enviar armas para a esquerda. Mas direciona as mesmas para o Partido Comunista. O PC inicia assim uma tentativa de tomar a hegemonia da “Revolução”, a partir do poder que conseguiu com as armas mais modernas mandadas por Stalin.
Os fatos começam a tomar rumos absurdamente complexos. Inicia-se uma guerra dentro da guerra. As esquerdas que não recebem armas (anarquistas e trotskistas) se revoltam contra o PC. Ve-se tiroteios entre anarquistas e comunistas nas ruas de Barcelona, pelo poder do edifício dos Correios. Trotskistas são presos em Madrid e levados para Edifícios Prisões criados por aqueles apoiados por Stalin.
A burguesia e a aristocracia espanholas, que se escondiam dentro das cidades ainda republicanas, aparentando uma humilde aceitação da atual condição, com suas roupas velhas e encardidas, como diria George Orwell, em suas lembranças no texto Homenagem a Catalunha, também contra-atacariam tomando as cidades que haviam resistido aos ataques franquistas.
Nas Vilas do interior, as Igrejas, que haviam sido tomadas pela população local, e se transformaram em hospitais e escolas, eram retomadas pelos padres e freiras fascistas, que eliminavam facilmente as milícias de esquerda, enfraquecidas com as confusões ideológicas e lutas reais que ocorriam entre os grupos que as formavam.
A “Revolução” foi derrotada. O povo teve de voltar aos seus velhos afazeres comuns: escravização e alienação. Inclusive indo as Praças logo após a queda do governo eleito democraticamente, para saudar Franco e seus apoiadores, servindo de massa de manobra.
A derrota foi tão humilhante, e a repressão tão feroz após a vitória dos golpistas, que o Generalíssimo Franco ocupou o poder supremo na Espanha até a sua morte, em 1975.
A crise de incompreensão sobre a derrota, os medos pelos conflitos ideológicos entre filhos e pais, entre irmãos e primos, foi tão grande que o historiador Pierre Broué, em Seminário sobre a Guerra Civil Espanhola, ocorrido em Salvador, na década de 90, ainda afirmava haver um receio de pesquisadores espanhóis estudarem sobre os fatos e acontecimentos ocorridos entre 1936 e 1939.
Há poucas semanas atrás estudantes e trabalhadores espanhóis também sairam as ruas e tomaram as praças, pretendendo defender os ganhos que haviam conquistado nessas últimas décadas sem o autoritarismo franquista. Os jornais que li relembravam, fazendo analogias, ao Maio de 1968 francês.
Naquele momento, não vi qualquer referência ao Julho de 1936. Infelizmente.
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Como opção para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre a Revolução Espanhola faço duas sugestões:
e
O filme Terra e Liberdade, de Ken Loach.
(não achei nem venda de DVD, nem qualquer local para Download na Internet, portanto dê uma andadazinha até a locadora mais próxima em nome da lembrança de uma história e tanto)
Caro Baqueiro,
ResponderExcluirMais um ótimo texto seu, que contribui bastante para manter acesa a memória de uma luta tão exemplar para as lutas de hoje... e de sempre!
Grande abraço, JH (Rio de Janeiro).