JORNAL
COMENTADO 139
6:55
– 22.07.2013 – Segunda-feira
toNY PAcheco*
Não
sou capaz, como professor Ricardo Líper, de dissertar sobre “O Mundo como
Vontade e Representação”, de Schopenhauer, mas quero falar do mundo brasileiro como
representação teatral, onde atores muito mal treinados desempenham
papéis para os quais não foram talhados e, aí, dá nesta me... que vivemos no
dia a dia.
Vejamos
os jornais e revistas de hoje:
“Domingo
é Meia: fiscalização aumenta em 20%”
(“Correio”)
O
jornal da família Magalhães do qual, no geral, gosto muito, continua sua tarefa
de Hércules de mostrar que a atual administração da Prefeitura está fazendo
alguma coisa no quesito mobilidade urbana. Diante das denúncias sobre o óbvio
(não há ônibus suficientes aos domingos para as necessidades da população), o “Correio”
afirma sem citar nenhuma fonte confiável, tampouco algum estudo estatístico,
que a frota de ônibus em Salvador, aos domingos, é de 50%. Não foi o que notei,
pessoalmente, ontem: acabei pegando uma van que me levou do Campo da Pólvora
até São Caetano por 3 reais, depois de terem me pedido 5 reais pra início de
conversa.
Quer
dizer, é tudo um teatro, o que se afirma na mídia não se comprova na prática. Isto
é péssimo para a mídia.
“A
dúvida do ministro”
(“Veja”)
O
mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, que,
segundo “Veja”, já foi advogado do Google, está na dúvida se julga ou não processo
em que uma foliã teve imagens de sexo, nas quais era a estrela principal,
jogadas no YouTube (Google). Quer dizer, que peça com argumento mal engendrado,
que falas mal concatenadas. É óbvio ululante que ele deveria se considerar
impedido, mas o Brasil é uma Ilha da Fantasia ao contrário, aqui, todos
pesadelos viram realidade.
Falar
em “concatenado”, na novela “Amor à Vida”, da TV Globo, a personagem que vende
cachorro-quente no subúrbio carioca falou “concatenado”, o que, é claro,
ninguém no subúrbio carioca ou qualquer outro subúrbio brasileiro sabe o que
é...
“Um
BA-VI de primeira”
(“Tribuna
da Bahia”)
“Antes
do jogo, tensão lá fora”
(“Correio”)
No
teatro da vida baiana, o jornal da Djalma Dutra viu um jogo de primeira num
empate chinfrim. Como diz Freud, se você não tem olhos de ver, não vê. Agora, o
que não foi de primeira, mesmo, foi o trabalho da Prefeitura de Salvador em
ordenar o trânsito. Às 15:15, por exemplo, e durante quase meia-hora, uma SUV
Mitsubishi Pajero Full resolveu parar na “ilha” no alto da Ladeira da Fonte
Nova, que estava fechada pelo órgão municipal de trânsito. Com esta parada
IRREGULAR e ILEGAL, o proprietário do veículo (que deve ser alguém BAMBAMBAM
nesta peça teatral mal dirigida que vivemos) ENGARRAFOU a Av. Joana Angélica de
cabo a rabo, pois onde passavam dois carros, antes da chegada do dono do veículo feio (sim, porque é caro, mas é horroroso), só ficou espaço para um veículo passar por vez.
Agora, imagine o INFERNO que foi, com os agentes municipais de trânsito nem se
incomodando com o fato.
Mais
adiante, outro ato da peça “Inferno da Arena”, que vem sendo encenada neste
2013 e promete ficar pior em 2014: ainda na Av. Joana Angélica, na altura do
Sesc, antes do viaduto sobre a Av. Marechal Castelo Branco (Vale de Nazaré), um
guicho com adesivo do órgão de trânsito municipal tinha uma pick-up Chevrolet
S10 na carroceria e ficou um tempão parado transformando a avenida, que é mão e
contramão, em uma via de mão única disputada pelo sentido contrário. Foi outro INFERNO. Quem escapou do
engarrafamento no alto da Ladeira da Fonte Nova pensou que já tinha passado por
tudo e, então, deparou-se com outro congestionamento, o do guincho a serviço da
Prefeitura.
Ninguém
merece! Pagar tão alto pela entrada de uma peça tão mal dirigida que é esta da
vida em Salvador.
E por falar em peça, que atores horríveis estes da TUI e da Bamor, as torcidas do Vitória e do Bahia? E a PM ainda incomodada com isso. Este tipo de não-gente, não se incomoda de andar em busão lotado pra chegar no estádio, nem de passar pelo esgoto que é a Estação da Lapa, mas acompanha futebol como se fosse assunto da mais alta relevância. A PM devia dar um taco de baseball pra cada torcedor e deixá-los se matarem. Só vão fazer falta pras mães deles. Talvez nem isso. Alguns que conheço, são até gente boa, mas a maioria não fará falta nem pras mães.
“Aposentado
no shopping”
(“Veja”)
Você
vê a qualidade da mídia da sua cidade quando constata que as notícias sobre sua
cidade chegam de longe e nunca dos órgãos de imprensa da própria cidade. Na “Veja”
desta semana, uma notícia sobre Salvador, a peça tragicômica “Aeroclube Abandonado”, ganhou um novo
capítulo: ficamos sabendo que o substituto do shopping Aeroclube chamar-se-á “Shopping
Bosque”, e pertence a, entre outros, ao ex-governador do PSDB do Ceará, Tasso
Jereissati.
Olhe
que peça mal montada: quer dizer que já está decidido o que será feito no
Aeroclube, mesmo tendo o Ministério Público baiano vetado o projeto que está
rolando por aí? “Bosque”? Que bosque tem naquela área? É um terreno árido, cheio
de terra vermelha. Era um campo de pouso de aviões pequenos monomotores, nunca
teve uma árvore.
Estranho
é que nenhum jornal, TV, rádio, site ou blog de Salvador sabia deste “Shopping
Bosque”. Inauguramos a peça teatral secreta. Aliás, nossa mídia tornou-se o cemitério das novidades.
“Kate
Middleton entra em trabalho de parto”
“Juliana
Paes dá à luz ao segundo filho”
(“A
Tarde”)
Que
espetáculo enfadonho. Num mundo com 7 bilhões de almas penadas tentando
sobreviver à ausência de recursos disponíveis (água potável, alimentos, mobilidade,
segurança, educação, saúde e alegria de viver etc. e tal), a imprensa amestrada
fica dando notícia sobre parto.
Nascem
para os palcos deste planeta pequenino 264 mil pessoas por dia e só morrem 112
mil diariamente. A notícia deveria ser: onde é que vamos colocar o excedente? Até há pouco, o mundo contava 7 bilhões de pessoas e em pouquíssimo tempo já estamos
com 7 bilhões e 88 milhões. Quer dizer, crescemos uma Alemanha em poucos dias.
A
questão não é o filho de Kate ou o filho de Juliana ou o filho de dona
Sebastiana do Calabetão: é, o palco é pequeno pra tantos coadjuvantes.
Se eu fundar a Igreja dos Deuses Antigos (Afrodite e Apolo) não será um golpe para não pagar impostos. Creiam!!!
“O
Papa dos pobres”
(“Veja”)
“Papa
chega e deve enfrentar manifestações no Rio”
(“Tribuna
da Bahia”)
“Papa
no Brasil”
(“Correio”)
“Redes
sociais convocam protestos contra visita do papa"
(“A
Tarde”)
No
espetáculo “visita papal”, cada veículo dá a manchete que a ideologia do patrão
gosta.
O
texto básico desta peça religiosa deveria ser: quem deu autorização para se
gastar R$180 milhões na visita do pontífice da Igreja Católica? Eu não dei. E
você, deu autorização?
Papa
dos pobres? Tenha dó! Tem algo errado neste “script”. Este homem representa um
império de bilhões de dólares em patrimônios mundo afora. Não há a menor
necessidade de nenhum Estado do mundo custear viagens do administrador desta igreja ou de qualquer outra.
Aliás,
está mais do que na hora de o Brasil colocar na ordem do dia um assunto
TÉCNICO, SEM PAIXÕES, sobre o Estado Laico. Fomos fundados como República Laica
em 1889 e, ao longo do tempo, estamos perdendo esta característica e a razão
principal é esta INDULGÊNCIA TRIBUTÁRIA que as religiões têm no Brasil e que
estão perdendo na Europa, principalmente na França, onde a discussão está mais
avançada.
Todos
têm direito a se achar emissários de um Deus, qualquer deus, mas tem que pagar
por isso. O sujeito não pode se achar um enviado de uma divindade e fazer com
que o povo pague suas despesas e ele, como emissário divino, NÃO PAGUE
IMPOSTOS. Chega de ISENÇÃO DIVINA.
Não
é só a Igreja Católica, a Igreja Universal do Reino de Deus ou a Assembléia de
Deus que têm ISENÇÃO FISCAL no Brasil e ainda gozam de despesas públicas feitas pelas
autoridades, há também coisas como:
Assembléia Ministério De Ostentação Ao
Rebanho
Associação
Evangélica Fiel Até Debaixo D'água
Congregação
Anti-Blasfêmias
Igreja
A Serpente De Moisés, A Que Engoliu As Outras
Igreja
Abastecedora De Água Abençoada
Igreja
Assembléia De Deus Botas De Fogo Ardentes E Chamuscantes
Igreja
Assembléia De Deus Do Papagaio Santo Que Ora A Bíblia
Igreja
Atual Dos Últimos Dias
Igreja
Automotiva Do Fogo Sagrado
Igreja
Automotiva Móvel Do Fogo Sagrado
Igreja
Bailarinas Da Valsa Divina
Igreja
Batista Da Juventude Sem Drogas E Rock'n'roll
Igreja
Batista Evangélica Da Bazuca Celestial
Igreja
Batista Gay Do Rio De Janeiro
Igreja
Batista Homossexual Gays De Cristo
Igreja
Batista Logarítmica Do Reino De Deus
Igreja
Batista Nero Se Arrependeu, e Você?!
Igreja
Batista Pentecostal A Cobra de Moisés Que Engoliu As Outras Más e Fracas
Igreja
Batista Too Much
Igreja
Congregacional de Agronomia da Salvação
Igreja
Contato Direto de Vigésimo Grau com Milagres etc. etc. etc.
POR
QUE NÓS TEMOS QUE FICAR FINANCIANDO ISSO?
Liberdade
religiosa é você nunca ser impedido de professar sua religião, não é EU PAGAR
PRA VOCÊ PROFESSAR A SUA RELIGIÃO.
Nesta
peça teatral temos que gritar: ESTAMOS FORA!
* tonY pacheco é jornalista-radialista profissional formado pela UFBA.
Amigo Tony ! Concordo em gênero, numero e grau, com sua opinião.
ResponderExcluirO maior problema do Brasil é que nós falamos, discutimos, escrevemos sobre tudo que está errado neste país, mas não temos atitudes. Atitude é o que nos falta. Vale a pena reler o texto de nosso amigo João Ubaldo Ribeiro, tenho a impressão de que o tal texto fora escrito a menos de um segundo atrás. "PRECISA DE MATÉRIA PRIMA PARA SE CONSTRUIR UM PAIS"
Silêncio total sobre o TUCANODUTO, por onde não passa um filete de água limpa, veiculado na ISTO É.
ResponderExcluirINIMIGOS da corrupção, 50 milhões de dólares foram desviados só neste esquema da tucanalha e só vocês não sabem... Nunca ouviram falar na ISTO É?
Silêncio total sobre a sonegação da REDE GLOBO, 600 milhões de reais, e furto do processo na Receita Federal com a condenação da funcionária na Justiça Federal.
Vai conseguir um emprego no jornal do Neto do Rei do Grampo, merece, tem competência para tal função.
INIMIGOS de araque...
Voces inimigos falam de tudo, mas preservam os jornalistas. por que? por que? por que: a imprensa é amestrada, os patrões da imprensa são monstros. mas porque não falam dos jornalistas?
ResponderExcluir