JORNAL
COMENTADO 62
tony pachEco*
6:07 –
Quinta-feira – 28.02.2013
“Preço do
metro quadrado dispara em RJ e SP”
(“Tribuna
da Bahia”)
“Desemprego
na RMS tem alta e atinge 17,3% em janeiro, diz DIEESE”
(“Correio”)
Dá pra ver porque o metro quadrado em Salvador é o mais barato entre as capitais brasileiras...
Metro
quadrado em São Paulo chegou aos R$21.483. Isto é, um apartamento como o que nós
moramos aqui em Salvador, de 170 metros quadrados ,
vale R$3 milhões e 600 mil em Sampa.
Já na
capital da Bahia, nosso apartamento só vale, teoricamente, R$674.000. Contudo,
a última vez em que tentamos vendê-lo, mesmo anunciando por R$250 mil, ninguém
quis... NINGUÉM MESMO.
Em Salvador
está o metro quadrado MAIS BARATO entre as grandes capitais do Brasil: R$3.965.
A média nacional do metro quadrado construído é de R$6.862.
É motivo
para comemorar? Sim. Para quem paga aluguel, pode soltar seus fogos à vontade. Este
dado é uma maravilha. Só que quem paga aluguel não faz a economia girar, não cria empregos na construção civil, não gera impostos etc. e etc.
Mas, para o
estado da Bahia e para o município de Salvador, como entidades político-financeiras,
isto é UMA TRAGÉDIA. Significa que as economias do estado e da capital estão
com sérios problemas, pois não conseguem acompanhar o ritmo nacional de
desenvolvimento.
E para o
proprietário de imóvel, seja ele seu Zé, da invasão das Malvinas, ou dona Patrícia,
da Graça, é UM HORROR, pois têm um CAPITAL IMOBILIZADO que NÃO CRESCE de jeito
nenhum e se deixarem para os filhos, deixarão algo que tem um valor
INEXPRESSIVO.
E POR QUE É
ASSIM?
O prefeito
ACM Neto chegou ao poder numa eleição memorável e já notou o que João Henrique
e todos os anteriores a ele já sabiam: Salvador é uma CIDADE PAUPÉRRIMA.
Como
administrar uma cidade onde você NÃO PODE cobrar impostos dos cidadãos para
oferecer-lhes serviços de saúde, educação, transporte, segurança e lazer?
Salvador é
campeã nacional de desemprego há décadas. A economia da Bahia não avança. Pernambuco
está se transformando num oásis de desenvolvimento no Nordeste enquanto a Bahia
fica patinando, patinando, embora a propaganda oficial seja MARAVILHOSA. IMPECÁVEL.
É isso que
faz com que o metro quadrado construído em Salvador seja o mais baixo do País. É
porque NÃO É INTERESSANTE economicamente morar ou ter negócios aqui.
Enumeremos:
1)
como
já dissemos, somos a capital do desemprego no Brasil, isto é, são mais de 400
mil soteropolitanos que estão fora do mercado de trabalho e, com isso, consomem
pouquíssimo e só consomem coisas baratas, de baixa qualidade, gerando uma
economia pobre em recolhimento de impostos sobre consumo;
2)
a
infraestrutura urbana é precaríssima: até uma bicicleta tombada numa rua
qualquer causa um engarrafamento monstruoso. Não é por acaso que todas as rádios
da capital baiana começam o dia dizendo: “É, caros ouvintes... mais um dia e 7
horas da manhã já está tudo travado na Av. Luiz Viana, a Paralela; na orla; na
Av. Bonocô; na Suburbana...” e aí prossegue a descrição. Não há investimentos
de monta em infraestrutura urbana em Salvador há quatro décadas, pelo menos e o
que estão fazendo, como na Rótula do Abacaxi, criaram um sentido de tráfego
livre em cima e deixaram os engarrafamentos embaixo – um erro crasso;
3)
70%
dos imóveis da cidade são irregulares (duvida? Perca o amor a R$500 e dê um vôo
de helicóptero por Salvador, você vai querer se jogar lá do alto...). Somos o
maior favelão do Brasil proporcionalmente e, aí, o que acontece? Como só 3 em
cada 10 imóveis são totalmente regulares, você como prefeito NÃO PODE querer
cobrar destas três famílias TODO O CUSTEIO DA CIDADE. Seria injusto e quase
cruel. E estas três famílias têm nível superior, são formadoras de opinião e têm
acesso aos meios de comunicação e não aceitariam passivamente pagar sozinhas o
que as outras sete famílias usufruem... E, aí, você fica sem dinheiro para
tocar a cidade e enfrentar os problemas que ela tem. É o chamado CÍRCULO
VICIOSO: “Não faço porque não tenho. Não tenho porque não faço.”;
4)
A
cidade chegou ao fundo do poço em termos de manutenção dos equipamentos públicos:
ruas, avenidas, praças, praias, monumentos, limpeza, ordenamento do uso do
solo, está tudo escangalhado, exigindo investimentos milionários.
E muitos outros elementos CONSPIRAM contra
Salvador e, por isso, o mercado imobiliário local é, na verdade, um grande
engodo, pois o investidor não consegue RETORNO do capital investido quando
compra um imóvel em Salvador. Seria melhor torrar tudo em champanhe, como diria
uma personagem do “reality” da Band, “Mulheres Ricas”. É cômico, se não fosse
trágico pra todos nós.
* tony Pacheco é jornalista formado pela UFBA e estudou Economia nas universidades Federal de Juiz de Fora e Federal da Bahia.