Aproxima-se a hora! Cada dia como este, que passa qual ponto luminoso na triste e negra história proletária, é como as horas lentas de imenso relógio que apressam o epílogo duma grande tragédia de dor.
Já ninguém põe em dúvida os direitos humanos dos trabalhadores, já ninguém nega as grandes conquistas morais da humanidade do século 20 e aqueles que ainda persistem em estacionar ou regressar no caminho do progresso, o fazem invocando velharias tradicionais que não resistem à menor análise.
É que as novas concepções positivas da vida, como são solida e logicamente baseadas na natureza humana, não podem sofrer contestação de espécie alguma.
Poderão os egoístas não se abalar, acostumados como estão a viver no regime da injustiça ao qual se locupletam, mas não ousam negar os nossos direitos, o direito de todos os homens de viver e gozar os infinitos encantos da natureza.
Tempos houve em que os intelectuais, ao soldo da burguesia, tentavam discutir ideias sociais com os novos campeões da igualdade e da justiça, e mais de um escritor socialista e anarquista terçou armas com adversários burgueses. Hoje não! O burguezismo sabe que não tem razão; sabe que vive da sua injustiça e da miséria dos seus semelhantes e por isso responde à lógica férrea dos nossos argumentos com balas e prisões, com atropelos e com mortes...
A velha sociedade de iniquidades debate-se desesperadamente na agonia e lança mão dos meios mais ignóbeis para tentar abafar a voz da justiça; mas será inútil o esforço. Nem as modernas armas de guerra conseguirão sufocar sentimentos que estão no âmago do coração do povo; nem a tortura produzirá mais o efeito de fazer abjurar ideias que acalentam a vida, que são a própria vida!
A hora aproxima-se! E a burguesia, pálida de espanto, sente esbarrondar-se o seu formidável castelo de privilégios que tem feito a infelicidade de tantas gerações.
Caminhamos para o futuro; marchamos para a sociedade nova, para o império da verdade, lá onde não se ouvirá gritos de sofrimentos nem estertores de famintos, onde se não ouvirá o ronco do canhão vomitando morte, nem o tinir das correntes arrastando vítimas e onde os homens, apagando os traços das fronteiras convencionais, unir-se-ão universalmente como uma grande família, no seio da qual haverá lugar para todos, porque todos são irmãos.
Marchemos. A hora da chegada aproxima-se!
Transcrição do Jornal A Luta, de 1º de Maio de 1909.
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