JORNAL
COMENTADO 114
6:38 – 31.05.2012
– Sexta-feira
Tony pacHECo*
OU: DE QUANDO O
DOENTE É O MÉDICO...
Jude Law, psiquiatra. Catherine Zeta-Jones, psiquiatra. Channing Tatum, chamariz de bilheteria. Rooney Mara, a meninazinha desnorteada (hum!!!)
Filmes
realmente bons são vistos por poucos.
Quando digo
aos meus amigos que a oligofrenia é o traço majoritário da Humanidade, eles me
esculhambam e dizem, em contrapartida, que eu meço o mundo pela régua do meu
pequeníssimo mundo, e que, isso, epistemologicamente, é incorreto. Sim,
epistemologicamente falando eu posso estar usando um argumento pseudo-cético,
mas quando constato que um filme como “Terapia de Risco” lota a sala até o talo
e, no entanto, o exibidor o coloca na pior sala do Cinemark Salvador Shopping e
que o exibidor da UCI Aeroclube simplesmente o tira de cartaz
inexplicavelmente, então, não estou com pseudo-ceticismo, estou apenas gritando como a
meninazinha no cortejo do soberano pelado: “O rei está nu!”. É constatação, não é
ilação nem delírio.
Mas, CHEGA
DE NARIZ-DE-CERA.
Os médicos,
na mais importante nação do mundo, os Estados Unidos, estão na berlinda há
alguns anos. Primeiro foram os cirurgiões, acusados de imperícia e muitos
presos ou multados, com muitas interdições também. Depois vieram os
nutricionistas, que viveram anos milionários, criando fórmulas mágicas de
emagrecimento e agora são vistos como charlatães e muitos foram processados. E,
finalmente, a onda desmistificadora contra a Medicina chega à Psiquiatria, o médico
que pretende entender o que passa pela cabeça do ser humano.
É sobre
isso que fala “Terapia de Risco”, embora o título original seja mais revelador:
“Side Effects – One pill can change your life” (Efeitos Colaterais – Um
comprimido pode mudar sua vida).
“CABEÇA DE
GENTE NÃO É LUGAR QUE SE PASSEIE”
Quem me ensinou isso foi Dona Floripes, falecida mãe do meu compadre César. Sábia mulher.
Para muitos
intelectuais, a Psicanálise, a Psicologia e a Psiquiatria estão para a Ciência
assim como a Meteorologia está. Eles simplesmente não acreditam que este ramo do
conhecimento passou do achismo para a certeza científica. De qualquer sorte, o
que Freud, Jung, Lacan ou John Watson determinaram até agora sobre o que vai no nosso cérebro, já dá para os especialistas neste ramo terem UM
GRANDE PODER SOBRE AS PESSOAS.
É disso que
se trata “Terapia de Risco”: o quê a nossa inescapável humanidade pode aprontar
com outros seres humanos quando detemos um CONHECIMENTO que não é comum a
todos.
Destaque especial para o momento em que a personagem de Catherine Zeta-Jones diz a Jude Law:
"POR VOLTA DOS 14 ANOS AS MULHERES APRENDEM A DISSIMULAR ENQUANTO OS HOMENS APRENDEM A MENTIR".
RESUMO DA
ÓPERA
“Side
Effects” fala de um jovem investidor milionário (Channing Tatum, que só aparece
para chamar bilheteria – não tem mulher hétero nem homem homo que resista a
este rapaz, aí a bilheteria “incha”, como em "G.I. Joe"...) que é preso por
fraude, lançando sua esposa (a jovem e excelente Rooney Mara) na miséria.
Ela procura ajuda psiquiátrica em Catherine Zeta-Jones, que de tão boa atriz,
você bate o olho e vê mesmo aquela psiquiatra-maluca arquetípica sem precisar
fazer careta. De repente, a jovem que tem o marido presidiário
se vê às voltas com o dia em que ele sairá da cadeia e mete o carro dela numa
parede propositalmente. E procura o psiquiatra vivido por Jude Law, um dos
melhores atores britânicos da atualidade, sem favor algum.
E onde
entra a nossa “inescapável humanidade”? É o axioma freudiano: todos viemos a
este planeta para gozar. Saímos da vagina de nossas mães direto para o peito
delas e se ela nos tira o peito um minuto, abrimos um berreiro para voltar a
mamar e dali por diante, procuramos mamar em tetas suculentas até o final dos
nossos dias, mesmo que pelo caminho destruamos muitas vidas.
Os médicos do filme usam seu saber apenas para enriquecer e resolver os seus problemas e não o de seus pacientes. O filme é
absolutamente perfeito e deve ser visto não só por médicos (a sala estava cheia
deles), mas por todos nós, seres humanos mortais também...
CORRIDA DE
OBSTÁCULOS PARA IR AO CINEMA
Salvador,
realmente, é uma cidade louca e sempre caótica.
Olhei no “Correio”
a lista de filmes e vi que “Terapia de Risco” estava passando em um só cinema
em Feira de Santana e, em Salvador, em dois: às 15 horas no Aeroclube 10, e às
mesmas 15 horas, no Cinemark 6 Salvador Shopping.
Fui direto
ao Aeroclube, pois sou pobre e quero cinema mais barato com a mesma qualidade
de exibição. Chego à bilheteria e a mocinha diz: “Foi só até ontem”. Não
discuto com mocinhas na Bahia. Elas e “o rapaz” são entidades poderosas demais
para mim.
Pego o carro e aproveito o trânsito suave do feriado e ponho os 200 cavalos para
correr e chego no Cinemark Salvador Shopping às 14:50.
Pensem numa
visão do inferno...
Todas as máquinas
de comprar bilhete eletrônicas com filas imensas. Todos os caixas da bilheteria
normal com filas imensas.
Escolho
uma fila onde dois casais aparentando 16 anos, estavam animados se esfregando.
Dá 15 horas. Sessão começada. Desesperado, pergunto às meninas e aos meninos
esfregadores: “Meu filme é ‘Terapia de Risco’ e já começou. Posso passar à sua
frente? Sei que vocês verão a sessão das 15:40 dos filmes mais animados...”
Pra quê eu
disse isso... “Só porque a gente é novo não pode gostar de filme bom não? A
gente vai assistir Channing Tatum também...” Quando ela disse Channing Tatum
obteve logo a anuência da outra menina e dos dois meninos com o mesmo
entusiasmo juvenil. E eu, desesperado, entrei na sala com alguns poucos minutos
do filme começado (vou baixar depois na Internet pra rever várias vezes).
E, aí,
outra surpresa de profissionais que esculhambam este mundo: VOCÊ OUVE, O TEMPO
TODO, O SOM DA SALA VIZINHA. Deduzi que era “Velozes e Furiosos 6” , pelas freadas que ouvíamos
claramente, roubando nossa atenção das falas de Jude Law à nossa frente. É
assim, nossos baianíssimos engenheiros NÃO SABEM O QUE É ACÚSTICA. Nunca ouviram falar em
ENGENHARIA DOS MATERIAIS. E, assim, temos uma Itaipava Arena Fonte Nova onde não
se ouve nada e também uma sala 6 do Cinemark onde se vê um filme e se ouve o
som de dois filmes...
Relaxei e gozei!
* tonY Pacheco é jornalista-radialista profissional, mineiro de cabeça e baiano de corpo...
Você hoje se superou. Espera-se que não tenha sido o feriado. Ah! Ah! Continue assim. Neste deserto cultural. Quem mora em Salvador precisa de suas letras. Fui.
ResponderExcluirMuita gente não gosta do jeito que você esculacha os profissionais baianos dos mais variados tipos. Mas eu gosto. Sou jronalista como vocês e sei que é pouco profissionalismo pra muita tiração de onda nessa nossa Bhaia.
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