jornalista Waldomiro Santos Junior
QUEM É O SANTO?
Acho que no caso dos "médicos que vêm de fora", não podemos encarar a situação como uma questão nacionalista, porque não é. O que está em jogo (e esse mesmo o termo) são milhares, milhões de vidas de brasileiros que não têm o direito elementar: a vida. Há um debate enorme, na classe média (onde se inclui os médicos), enquanto quem precisa de médico continua em silêncio (porque não tem voz mesmo) na mesma. Os médicos brasileiros não têm condições de tratar a população no interior. É verdade. Mas é verdade também que no Roberto Santos, por exemplo, que é um hospital muito bem aparelhado (quem o conhece internamente sabe), o atendimento tá longe de ser bom. Também é verdade que Brasília tem o maior número de médicos por habitantes no país, gasta 12 bilhões por ano na saúde, o governador é médico e a saúde é uma vergonha. É verdade também que os médicos têm uma das maiores bancadas no Congresso, comandam as secretarias de saúde municipais e estaduais, administram praticamente todos os hospitais públicos e privados, tiveram (com exceção de Serra) todos os ministros da área, têm governadores, prefeitos, tiveram presidentes da República e a saúde nunca mudou. É verdade que centenas de brasileiros com planos de saúde têm que recorrer a Justiça para terem assegurados direitos e, infelizmente, não apenas nos grandes planos, mas também naqueles que são comandados por profissionais da medicina. É também verdade que cenas de humilhação, negligência e omissão de médicos, sobretudo no atendimento a pacientes pobres, ocorrem nesse país numa proporção inimaginável em relação aos digamos, países "mais civilizados". É também verdade que os médicos, como categoria, se omitem de todas as causas nesse pais, da luta contra a ditadura ao aumento da passagem de ônibus e só se movimentam quando o sapato aperta no próprio pé. Mas também é verdade que médicos no Brasil, quando eu era criança (e já faz muito tempo), eram exemplo de humanismo e que a gente ainda encontra profissionais assim, geralmente os mais velhos, que pertencem a essa geração humanitária. Mas é verdade que do final dos anos 70 para cá esse censo de humanismo foi se perdendo e continua a se perder a cada dia. Não é segredo para ninguém o entendimento de que temos uma medicina mercantilizada, que no Brasil, quem não tem dinheiro morre. Recentemente, um assessor da Presidência da República morreu por não ter sido atendido em hospital em Brasília, porque não estava com a carteira do plano de saúde. Mas é verdade que falta condições de saúde, mas não investimento. O Brasil gasta mais do que o suficiente na saúde (qualquer técnico ou pessoa de bom senso sabe), MAS ALÉM DE GASTAR MAL TEM OS DESVIOS. Só que quem administra esses gastos são exatamente médicos, seja ministro, secretários de saúde ou dirigentes de hospitais e o pior: na maioria dos casos de desvio de recursos do SUS, em alguma "ponta" há médico envolvido. É verdade também que os médicos que querem que os seus "colegas" estrangeiros, mesmo os formados em universidades mais conceituadas que as nossas, se submetam ao revalida, mas abominam a ideia de submeterem a prova (tipo OAB) para eles próprios. Por tanto este é um caso em que ninguém é santo, seja governo, seja médicos. Quem não tem culpa de jeito nenhum são os médicos cubanos e muito menos os brasileiros pobres que continuam sem médico e sem saúde.
* publicação autorizada pelo autor.
Waldomiro, é um honra ter um texto seu aqui. Apartidário e verdadeiro. Sem agredir ninguém, mas fazendo o bom jornalismo: dizer a verdade.
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