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Se algo constrangedor no movimento de greve de hoje dos
petroleiros pode ser símbolo da crise por que segue o sindicalismo foi a
situação por que passou o diretor Henrique Crispim na entrada do prédio do
EDIBA-Petrobras em Salvador.
Desde antes das 7 horas da manhã com o carro de som na porta
do prédio, Crispim esteve ali, sozinho até as 13 horas, quando passou mal, e
teve de ser levado ao Posto Médico, em uma cadeira de rodas conseguida pelos
próprios trabalhadores de segurança da Petrobras.
Sozinho, um pouco antes de passar mal, Crispim não se
mantinha em pé, devido, como ele próprio falou, a “ferros enfiados em sua
perna, devido a um acidente”.
Cena de um filme de terror, constrangedor para o próprio
sindicalismo baiano. Enquanto ele pedia as pessoas que não entrassem, a maioria
absoluta nem ligava para o que ele falava, mesmo sabendo que a maioria das
áreas havia votado em favor deste dia de greve. Enquanto ele passava mal os
trabalhadores do prédio continuavam passando pelas catracas eletrônicas sem o
mínimo de atenção sobre ele. Era como se ele nem estivesse ali.
Não estou aqui para dizer se a minoria que estava do lado de
fora estava certa ou não. Este texto é apenas uma pequena análise do que
representa para mim todo este quadro grotesco.
E.P.Thompson, um historiador que escreveu o livro A Formação
da Classe Operária Inglesa, dizia o seguinte sobre o que para ele seria uma
Classe Social:
“...a classe acontece quando alguns homens, como resultado
de experiências comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a
identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses
diferem (e geralmente se opõem) dos seus”.
A versão brasileira deste livro é de 1987. Não faz muito
tempo. Thompson é nosso contemporâneo. Faleceu em 1993, na Inglaterra.
Sua ideia de Classe não é a mesma de marxistas clássicos,
para os quais existe uma Classe pré-determinada. Com uma consciência
pré-existente, desde que o indivíduo se encontra em um trabalho manual, por
exemplo, ele terá a consciência de que é trabalhador. O trabalho de uma
vanguarda intelectual seria trazer a tona esta consciência de proletário, o que
faria com que se identificasse com outros trabalhadores e se organizasse, para
lutar por um mundo melhor para todos eles, operários.
Thompson acreditava que a tal consciência surgiria apenas se fosse desejo dos
indivíduos. Desejo surgido, seja pela necessidade, seja pelo conhecimento que
adquirissem com suas experiências vividas.
Somos, então, aqueles que se encontram trabalhando nas áreas da
Petrobras, ou de qualquer outra empresa, ou de qualquer escola, faculdade,
fábrica, instituição pública, ainda elementos de uma determinada Classe?
Podemos ser considerados membros de uma "Classe de Trabalhadores"?
Temos nós, uma identidade comum, um desejo comum, uma ânsia
comum de melhorar a vida de todos? Será que houve em algum tempo na História do
ser humano na Terra algum momento em que essa Classe tenha existido?
Ou sempre fomos apenas uma massa de indivíduos que só ligam
para o próprio umbigo e que têm em seu DNA o desespero da sobrevivência, que
nos deixa cada vez mais individualizados?
Talvez exista uma crise sistêmica no sindicalismo justamente
por isso. Os sindicatos representam gente que quer, na realidade, resolver
primeiro “seus” problemas. E a ideia de uma Classe Trabalhadora, existente no
mundo das ideias de muita gente que foi até mesmo torturada e assassinada por
isso, existe com a condição básica da solidariedade. Quando essa condição é
lançada para trás, torna-se uma condição distante das prioridades básicas,
então a Consciência de Classe torna-se impossível.
Talvez tenhamos nos enganado todo este tempo. Mas talvez
ainda haja tempo para nos recuperarmos e começarmos a entoar um hino em prol do
Capitalismo e do Individualismo, pelo menos deixaríamos a esquizofrenia ir embora para longe.
E chegaríamos mesmo, como Winston, em 1984, obra de George Orwell, a declarar
conscientemente nosso amor incondicional ao Big Brother.
É verdade Baqueiro, existe realmente uma crise no movimento sindical. Mas passará pois enquanto existir o conflito entre capital e trabalho existirá espaço e necessidade para um movimento de defesa dos trabalhadores.
ResponderExcluirO que estamos vivendo é resultado do passado, do fim do "socialismo real" e da ideologia que o amparava aqui e também de uma atuação sem muitos recursos intelectuais dos sidicalistas, sem bibiotecas nos sindicatos, portanto, sem rumo certo e com capacidade de respostas muito lenta. Ademais, todos sabem que quanto mais conhecimento o sujeito tem mais tende à participação política, contribuindo para a formulação dos problemas atinentes à sua condição de classe e para o equacionamento dos problemas mais gerais da sociedade.
Não devemos esquecer que o melhor momento para as reivindicações é um momento como este, de muita demanda por mão de obra e de crescimento da economia.
Menciono aqui apenas dois livros que abordam este declínio do movimento sindical e ajudam a entender a situação atual: "A DÉCADA NEOLIBERAL E A CRISE DOS SINDICATOS NO BRASIL", de Adalberto Moreira Cardoso, e "DA GRANDE NOITE À ALTERNATIVA - o movimento operário europeu em crise", de Alain Birh.
Vamos ao trabalho.
"sabem que quanto mais conhecimento o sujeito tem mais tende à participação política", temos os casos flagrantes do lula (ex-presidente da república federativa do brasil), do malafaia (pastor e e presentador de programas de entretenimento na tv)!!!
ResponderExcluiralgumas questões que deveríamos analisar
ResponderExcluir1.- o que se pode esperar de um sindicalismo que acredita no "estado" como elemento de resolução de conflitos; na "meritocracia" como ferramenta para medir quem tem direito a uma fatia maior no bolo da produção; na "competição" como um estimulo "saudável" na expansão e acumulo do capital???
2.- que pode esperar de um sindicalismo que optou pela sazonalidade das ações; só aparece uma vez por ano... e no período em que o "estado" determinou como a data apropriada para a reposição de perdas salariais??
O que se pode concluir de um sujeito que acredita que podem existir sociedades com seres humanos perfeitos e que dispensem a existência de polícia, leis e administradores da coisa pública?
ExcluirNefelibata...