ALEX FERRAZ
Argumento patético
Em todo esse imbróglio para aprovação inicial
da redução da maioridade penal, o que mais me chocou não foi a derrubada ao
chão do deputado Heráclito – que ainda bem que é Fortes -, a selvageria de
alguns manifestantes nitidamente “plantados” na Câmara, tampouco as
manobras do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para insistir na votação de
matéria já votada (em princípio, devo dizer que sou totalmente a favor da
redução, embora discorde de tudo o mais oriundo do senhor Eduardo Cunha).
Sim, mas ia dizendo, o que mais me chocou foram os argumentos no
mínimo irresponsáveis do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, aquele
mesmo que já disse que preferiria se matar a ir para uma prisão brasileira, ao
defender a posição contrária do governo em relação á redução da maioridade
penal. Ele disse que não há cadeias no País suficientes para mais gente,
lembrando, inclusive, que a população carcerária tem cerca de 220 mil presos
além da capacidade normal dos presídios e há ainda centenas de milhares de
casos a serem julgados, ou seja, de criminosos que continuam soltos.
Ora, senhor ministro, usar esse argumento é o mesmo que dizer que
o Brasil não pode punir criminoso, inclusive menor de 18 anos, porque nunca
teve qualquer preocupação em criar um sistema penitenciário digno e suficiente
para abrigar os julgados e condenados em condições minimamente dignas de vida
humana.
É reconhecer, ministro, que nem mesmo nos últimos 12 anos de
“mudança”, nem o senhor nem seus antecessores, assim como o Parlamento e os
chefes da Nação, se preocuparam em sanar de vez a podridão que reina nas
masmorras a que chamam de presídios neste país.
Enfim, é de um cinismo impressionante esse argumento. Mas, no
Brasil, já estamos acostumados a esse tipo de coisa. Por exemplo, o delegado ou
secretário de “segurança” pública que, nos meios de comunicação, aconselham a
que carreguemos sempre “o dinheiro do ladrão”, para evitarmos ser mortos pela
raiva do bandido ao não encontrar um saldo que lhe agrade, e que diz a turistas
que não devem carregar câmeras nem outros objetos de valor quando visitarem
nossas cidades. Ora, eles deveriam trabalhar sério para exatamente garantir que
pudéssemos fazer tudo isso de forma tranquila!
Já calejamos de ouvir que não devemos sair a
partir de certa hora da noite para nos divertir, em inúmeros locais das cidades
brasileiras, “porque são muito perigosos”, e também estamos fartos de ver
autoridades policiais que não com seguiram prender um bandido nem desvendar um
crime, falarem sobre a astúcia e a organização dos marginais, como se
estivessem a comentar um jogo de futebol.
De mais a mais, acho que a redução da
maioridade penal do jeito que ela passou na madrugada de ontem é pura
demagogia, se é que vai ser aprovada nos “finalmentes” ainda por vir. Por
exemplo, tráfico de drogas e agressões não serão motivos para punir os
menores (que, aliás, de um modo geral, já deveriam estar sendo punidos
por votarem voluntariamente e elegerem certo tipo de gente). Então, fica assim:
o tráfico e as agressões seguem liberados para os menores de 18 anos. Fim de
papo.
RUMO
Em sua recente visita aos Estados Unidos, a
presidente Dilma teve a oportunidade de usar uma das grandes invenções que vêm
sendo aperfeiçoadas para um futuro não muito distante: o carro sem motorista
criado pelo Google. Naquele momento, Dilma deve ter sentido como a automação é
muito mais segura. Uma pena que não se possa dizer o mesmo de um governo, onde
a direção humana ainda é muito importante. Mas, pelo visto, no Brasil estamos
iguais ao carro do Google: sem motorista.
Absurda impunidade
Estarrecido – ainda me dou a esse luxo, no Brasil -, vejo a TV
reportagem sobre a iminente liberação Suzane
von Richthofen para o regime semi-aberto, após ela cumprir apenas 13 anos de
uma condenação de 35 por ter assassinado seus pais, em 2002, em São Paulo.
Enquanto em países que levam a sério a
punição de assassinos crimes deste tipo resultam até mesmo em prisão perpétua,
aqui, mais uma vez, fica clara a benevolência da Justiça para com os mais
sórdidos criminosos.
Mas não é de espantar. Tem sido assim há décadas e, pelo visto,
continuará na mesma, já que, inclusive, mesmo em meio ao frisson causado pela
questão da maioridade penal, nenhum político acenou ainda com a revisão do
caduco Código Penal.
Frase: “Ele me lembra o sujeito que assassinou os pais e, no
tribunal, pediu clemência por ser órfão.” (Abraham Lincoln)
Cargas e descargas (I)
Não tenho mais dúvidas de que a prefeitura de Salvador resolveu
liberar de vez a carga e descarga na cidade, em qualquer horário.
Onde quer que se vá, há caminhões parados, em qualquer horário,
para carga o descarga, atrapalhando, claro, o trânsito.
Cargas e descargas (II)
Um exemplo disso ocorre na Rua Frederico Costa, em Brotas,
próximo à entrada para o Engelho Velho, na panificadora e mercado Panilha.
Ali, TODOS os dias (sou testemunha) estão parados pelo menos
dois ou três caminhões, em plena descarga, mesmo por volta das 10h30, como
presenciei na manhã da última terça-feira. Bem, se a Transalvador quiser se dar
ao trabalho, é só mandar um agente até lá. A gente esperar...
O caso Cristiano Araújo (I)
Lamentável a morte do cantor, de quem não sou
necessariamente um fã, assim como lamentável é a morte de qualquer artista,
pois são pessoas que vivem para nos dar satisfações estéticas.
No entanto, nunca é demais lembrar que a histórias das rodas
usadas presenteadas por um jogador, e soldadas, além do hábito de viajar sem o
cinto, foram fatais para o casal.
Eu pergunto: alguém que ganha milhões por mês precisa utilizar
roda usada? E quem dá um presente desse tipo? Ah, me batam um abacate!
O caso Cristiano Araújo (II)
A propósito, é bom recordar que diversos
artistas brasileiros, principalmente músicos, morreram em acidentes de carro,
como Evaldo Braga, Jessé, Chico Science, Bochecha e Gonzaguinha, para citar
alguns.
Ora, gente, vocês têm grana suficiente para
alugar avião, ou, melhor ainda, não precisar se preocupar com gastos para
dormir seguro, à noite, após um show, em algum hotel cinco estrelas, e seguir
viagem durante o dia.
Alex Ferraz
é jornalista, colunista diário e repórter da Tribuna.
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