Filmes Comentários

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Ainda "A Imitação do Jogo"

Ricardo Líper


Faltou na minha última postagem dizer que atividades sexuais são sempre uma questão política.
No dizer de Foucault, resultado de dominação do sujeito sujeitado e das relações de poder. Não é uma questão moral como pode parecer a uma primeira vista. A questão sempre foi e é política. Quando povos, que possuiam pouca população e eram escravizados por isso, criaram uma série de regras morais cujo fundamento era não desperdiçar o sêmen só com prazer e o fizeram para se consolidarem no poder. O "desperdício" do sêmen era a base de uma moral sexual porque o que interessava era a fabricação de crianças porque crianças seriam mão de obra e, além disso, poderiam ir para guerras. Países imperialistas, como a Inglaterra, abraçaram radicalmente isso. Por exemplo, com a mesma finalidade entre outras, como o poder e dominação masculina, se criou a poligamia. Um homem poderia ter quantas mulheres quisesse se as pudesse sustentar.
O curioso é como as pessoas sendo programadas desde crianças para desempenhar papeis sexuais aceitam qualquer coisa que a programação sexual imponha. Na poligamia as mulheres pareciam estar contentes com isso. Hoje não se aceita mais isso nas sociedades nas quais a aceitaram antes e a tinham como regra moral e legal.
Ora, entre pessoas adultas e consensualmente qualquer prazer sexual são apenas carícias corporais absolutamente inocentes. Sim: inocentíssimas. Carícias amorosas nas quais pessoas se acariciam mutuamente e nada é mais inocente, belo e gratificante. Tanto é que, as vezes, as crianças entre si quando não muito vigiadas fazem isso espontaneamente porque não sabem ainda que algumas dessas carícias podem ser proibidas. Só depois. adultas e programadas sexualmente, é que ficam enquadradas em onde pode ou não, no caso dos homens, esfregar, deixar pegar, colocar seu pênis ou qualquer parte do seu corpo. Isso é fundamental para servir sexualmente, com sua conduta sexual ditada por outros, os poderosos. Quer dizer, seguir suas regras para a manutenção ou aumento da população. Território e população. portanto, o tabuleiro e as peças do xadrez.
 Foucault chamou a atenção que depois da dominação individual através da disciplina dos corpos para criar pessoas dóceis ao poder surgiu o biopoder ou biopolítica que foi o domínio não só dos indivíduos, mas da espécie no que se chamou de população. E foi aí que o sexo, que fabrica crianças e replica as pessoas passou a ser violentamente estudado para dominar e programar pelo terror todas as pessoas que tentassem ser livres sexualmente. Todos tinham, sob pena de prisão por ser acusado de obscenidade grave, de seguir o modelo dos prazeres sexuais ditado pelo exercício do poder pelo Estado. Isto é, poderia somente limitar seus desejos sexuais ao modelo politico implantado ditatorialmente: o modelo da família cristã, branca, se possível europeia, na qual o pai mandava, depois a mãe nos filhos para os programar moral, sexual e politicamente. É por isso que surgiram psicólogos, psiquiatras, juristas, policiais e o povo, coitado, manipulado por essa corte de carrascos que vigiavam onde o individuo, homens e mulheres, esfrega seu corpo para chegar ao orgasmo. Foi unicamente por isso que Alan Turing foi supliciado e levado ao suicídio. Motivo torpe, sim, imoral, nazista.
Não existem apenas sexos com sexo diferente ou com o mesmo sexo. Existem milhares de possibilidades de carícias corporais que os homens e mulheres podem se alimentar sexualmente. É como os alimentos. O ser humano, para quem gosta de se basear na biologia, é assim feito pela natureza e ou pelos deuses. Desobedecer a natureza e aos deuses é sempre uma coisa muito perigosa. Daí, os suplícios, os sofrimentos, as infelicidades, as neuroses que surgem quando a liberdade sexual das pessoas é eliminada. E a imensa injustiça feita pelo inocente ato que Alan Turing cometeu que foi deixar outro homem tocar em seu pênis. O mundo ocidental, no meu entender, com esse ato, se equiparou pela sua estupidez e vilania ao nazismo que dissera combater. Não é possível ser resgatado e não existe perdão. Existe apenas a lembrança.
Admiro muito os judeus porque não deixam esquecer o holocausto. Não se pode esquecer Alan Turing. Já foi tarde esse filme que tivemos a sorte de ter sido feito como uma obra de arte inquestionável. Que imensa hipocrisia do poder: combater o nazismo tendo na alma disfarçada de domocracia o próprio nazismo. 

Um comentário:

  1. Profº Dr. Ricardo Liper, um homem de coragem, um apóstolo da liberdade, o Valtaire da Bahia.

    ResponderExcluir