Ricardo Líper
Faltou na minha última postagem dizer que atividades sexuais são sempre uma questão política.
No dizer de Foucault, resultado de dominação do sujeito sujeitado e das relações de poder. Não é uma questão moral como pode parecer a uma primeira vista. A questão sempre foi e é política. Quando povos, que possuiam pouca população e eram escravizados por isso, criaram uma série de regras morais cujo fundamento era não desperdiçar o sêmen só com prazer e o fizeram para se consolidarem no poder. O "desperdício" do sêmen era a base de uma moral sexual porque o que interessava era a fabricação de crianças porque crianças seriam mão de obra e, além disso, poderiam ir para guerras. Países imperialistas, como a Inglaterra, abraçaram radicalmente isso. Por exemplo, com a mesma finalidade entre outras, como o poder e dominação masculina, se criou a poligamia. Um homem poderia ter quantas mulheres quisesse se as pudesse sustentar.
O curioso é como as pessoas sendo programadas desde crianças para desempenhar papeis sexuais aceitam qualquer coisa que a programação sexual imponha. Na poligamia as mulheres pareciam estar contentes com isso. Hoje não se aceita mais isso nas sociedades nas quais a aceitaram antes e a tinham como regra moral e legal.
Ora, entre pessoas adultas e consensualmente qualquer prazer sexual são apenas carícias corporais absolutamente inocentes. Sim: inocentíssimas. Carícias amorosas nas quais pessoas se acariciam mutuamente e nada é mais inocente, belo e gratificante. Tanto é que, as vezes, as crianças entre si quando não muito vigiadas fazem isso espontaneamente porque não sabem ainda que algumas dessas carícias podem ser proibidas. Só depois. adultas e programadas sexualmente, é que ficam enquadradas em onde pode ou não, no caso dos homens, esfregar, deixar pegar, colocar seu pênis ou qualquer parte do seu corpo. Isso é fundamental para servir sexualmente, com sua conduta sexual ditada por outros, os poderosos. Quer dizer, seguir suas regras para a manutenção ou aumento da população. Território e população. portanto, o tabuleiro e as peças do xadrez.
Foucault chamou a atenção que depois da dominação individual através da disciplina dos corpos para criar pessoas dóceis ao poder surgiu o biopoder ou biopolítica que foi o domínio não só dos indivíduos, mas da espécie no que se chamou de população. E foi aí que o sexo, que fabrica crianças e replica as pessoas passou a ser violentamente estudado para dominar e programar pelo terror todas as pessoas que tentassem ser livres sexualmente. Todos tinham, sob pena de prisão por ser acusado de obscenidade grave, de seguir o modelo dos prazeres sexuais ditado pelo exercício do poder pelo Estado. Isto é, poderia somente limitar seus desejos sexuais ao modelo politico implantado ditatorialmente: o modelo da família cristã, branca, se possível europeia, na qual o pai mandava, depois a mãe nos filhos para os programar moral, sexual e politicamente. É por isso que surgiram psicólogos, psiquiatras, juristas, policiais e o povo, coitado, manipulado por essa corte de carrascos que vigiavam onde o individuo, homens e mulheres, esfrega seu corpo para chegar ao orgasmo. Foi unicamente por isso que Alan Turing foi supliciado e levado ao suicídio. Motivo torpe, sim, imoral, nazista.
Não existem apenas sexos com sexo diferente ou com o mesmo sexo. Existem milhares de possibilidades de carícias corporais que os homens e mulheres podem se alimentar sexualmente. É como os alimentos. O ser humano, para quem gosta de se basear na biologia, é assim feito pela natureza e ou pelos deuses. Desobedecer a natureza e aos deuses é sempre uma coisa muito perigosa. Daí, os suplícios, os sofrimentos, as infelicidades, as neuroses que surgem quando a liberdade sexual das pessoas é eliminada. E a imensa injustiça feita pelo inocente ato que Alan Turing cometeu que foi deixar outro homem tocar em seu pênis. O mundo ocidental, no meu entender, com esse ato, se equiparou pela sua estupidez e vilania ao nazismo que dissera combater. Não é possível ser resgatado e não existe perdão. Existe apenas a lembrança.
Admiro muito os judeus porque não deixam esquecer o holocausto. Não se pode esquecer Alan Turing. Já foi tarde esse filme que tivemos a sorte de ter sido feito como uma obra de arte inquestionável. Que imensa hipocrisia do poder: combater o nazismo tendo na alma disfarçada de domocracia o próprio nazismo.