Rio +20: o insustentável peso do capitalismo

ToNy pacheco


A Rio +20 tem a pretensão de avançar em direção a uma "economia verde", isto é, uma economia sustentável, onde a produção de bens de todo tipo não agrida a natureza ou, se agredir, imediatamente se providencie o reparo para que o planeta continue nos servindo indefinidamente.
Se o internauta ler com atenção o que eu disse acima, verá logo que a pretensão da reunião de chefes de Estado e especialistas no Rio de Janeiro é absolutamente inútil, pois o foco é um objetivo inalcançável sem que se ataque o problema primário: o modo de produção capitalista.
Desde quando me meti a estudar psicanálise, a partir de 2001, noto que é a oligofrenia o principal drama de nossa espécie: a maioria de nós não tem capacidade de aprender com a experiência. Já vimos que em 1992, no mesmo Rio de Janeiro, o modo de produção capitalista travou qualquer avanço em direção a uma "economia verde". Em Kyoto, um protocolo para diminuir a emissão de gases por todos os países (mas, principalmente, pelos países industrializados) foi assinado em 1997, mas só teve seu início em 2005, mas nada de concreto aconteceu, pois países como os EUA, a China, a Índia, o Brasil, a Rússia e tantos outros, ou não aderem seriamente ou então zombam descaradamente das intenções, como são os casos dos EUA e da China, envolvidos numa corrida para ver quem será o país mais rico do século XXI.
As discussões em torno de sacolinhas plásticas, embalagens pet, salvamento do mico-leão-da-cara-dourada, tomate orgânico e outras baboseiras, acabam sendo a única coisa palpável em todo o movimento ecológico mundial. Palpável e inútil.

O X DA QUESTÃO

O problema central, que NUNCA SERÁ ABORDADO, no entanto, é político, antes de ser econômico. Todos os países do mundo vivem, hoje, sob uma organização política que visa a manutenção de uma casta dominante que subjuga todos os povos e detém os meios de produção. Do Brasil à China, dos EUA a Singapura, da Suécia a Uganda. O liberalismo econômico, que é a face que o modo de produção capitalista tomou nas últimas décadas, pretende que um mercado global de bens e serviços deve comandar todas as decisões em todas as nações. A todos e a qualquer um é imposta a adesão ao capitalismo como única forma de produzir riquezas.
Só que o capitalismo pressupõe a destruição da natureza.
Na situação em que o mundo vive hoje, a própria ONU reconhece que estamos gastando UM PLANETA E MEIO para manter os povos no estágio atual de desenvolvimento. Agora, imagine quando os chineses tiverem conseguido o patamar de desenvolvimento do Primeiro Mundo, que é o que estão perseguindo desde Deng Xiaoping!
Há, também, a questão fundamental da obsolescência programada. Tudo que o capitalismo produz em termos de bens, tem data marcada para acabar. Do computador ao automóvel, do tênis à panela na cozinha, tudo é feito de maneira a acabar o mais rapidamente possível para obrigar o consumidor a comprar outro objeto e jogar aquele no lixo. A área de informática é emblemática desta noção perversa do capitalismo, pois quem resolver manter um computador por mais de cinco anos vai notar que ele não servirá para mais nada a partir de certo momento, pois não pegará nem atualizações mais.
Peço espaço para uma digressão: lembro do liquidificador Walita que minha mãe usava. Ela ganhou no casamento dela e quando saí de Minas aos 20 anos, o liquidificador estava ainda lá na cozinha. Isto é impossível hoje em dia: qualquer aparelho dura um, dois anos no máximo.
Para mudar isso, haveria a necessidade de uma revolução conceitual na política e isso ninguém quer NEM OUVIR FALAR. Vide que os partidos da antiga "esquerda" (PT por aqui, PC na China, PSOE na Espanha e daí por diante...) têm, hoje, os mesmos fundamentos econômicos dos partidos da direita tradicional.
Num mundo assim, falar em crédito de carbono e ararinha-azul é, verdadeiramente, uma piada.