JORNAL COMENTADO 179
6:56 - 20.02.2014 - Quinta-feira
toNY PAcheco*
“O outro lado da ADIN do IPTU”
(“Correio”)
Falando direto de Uganda para todo o planeta (sim, porque,
pela enésima vez, ligo o computador e a banda larga GVT está fora do ar,
embora me custe 182 reais por mês, uma das mais caras do mundo), vejo no jornal que assino um verdadeiro libelo contra a Ação de Inconstitucionalidade (ADIN) que a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia moveu contra a
Prefeitura de Salvador por causa do aumento astronômico do IPTU, mas,
principalmente, pela majoração descontrolada do valor venal dos imóveis, sob a
desculpa de que havia 19 anos que este valor não era atualizado. Se isso fosse
verdade, quem deveria estar sendo penalizado pela Prefeitura, com ações de
improbidade, prevaricação etc. e tal, seriam os ex-prefeitos que governaram a
capital nos últimos 19 anos e não a população. É O ÓBVIO!
Pois é, mas o jornal “Correio” tem assumido a defesa da
Prefeitura contra a opinião e os interesses dos seus próprios leitores
que não encontram em suas páginas o CONTRADITÓRIO. Quer dizer, lê-se tudo,
menos a opinião daqueles que são contrários ao IPTU alto. Em São Paulo , a FIESP
conseguiu derrubar o aumento do IPTU e teve consigo os maiores jornais
locais, pois que antenados com os anseios dos seus leitores. Aqui, pelo visto,
o “Correio” parece disposto a jogar no ralo a LIDERANÇA que com COMPETÊNCIA DOS
SEUS JORNALISTAS conseguiu nos últimos anos. Há uns seis anos, suplantou o
jornal “A Tarde”, que por décadas foi o campeão de audiência da população, pois
“A Tarde” chegava a níveis estratosféricos de preferência, como aos domingos,
quando vendia mais de 90% da mídia impressa da capital baiana. O “Correio”,
abandonando a “oficialidade” que vinha desde a sua fundação, quando era “A
VOZ DO DONO” e amargava índices de leitura baixíssimos, praticamente sem
assinaturas pagas, resolveu PROFISSIONALIZAR a sua Redação e quando passou a
ser A VOZ DA BAHIA e não mais do dono, bateu as décadas de liderança do jornal “A
Tarde” com um projeto moderno e PLURALISTA ao extremo. Mas, desde o ano passado
que isso vem mudando. Parece que os donos querem, de novo, que o jornal seja
apenas a sua voz. Com certeza, leitores (principalmente assinantes) vão
procurar outras fontes de leitura, tal como aconteceu com o jornal líder
anterior.
PONTO DE INFLEXÃO
Seria a hora de nos perguntarmos por que “A Tarde” e “Tribuna”
não aproveitam a maré OFICIALISTA do “Correio” e não voltam a lutar pela
liderança do mercado??? As pautas que o “Correio” não pode mais fazer estão aí,
gritando, o que daria a chance de um dos dois jornais tomar a liderança.
Vamos
a algumas pautas: 1) a volta do “CHUPA CABRAS”, a “INDÚSTRIA DE MULTAS” da
Transalvador de que nos falava o jornalista CRUZ RIOS, diretor de “A Tarde”,
derrotando esta verdadeira “SEGUNDA DERRAMA DE DONA MARIA, A LOUCA”. Curiosamente,
nem “A Tarde” nem “Tribuna” se interessam pelo assunto, mesmo ele tendo se
tornado um verdadeiro imposto oficioso sobre a propriedade de veículos em
Salvador, com várias áreas tornadas “INESTACIONÁVEIS” para gerar multas e
reboques, com agentes que têm visão de raio ”X” e multam falta de cinto de
segurança pra quem usa película nos carros e nem Superman saberia se o motorista
está ou não com o cinto e, o mais tragicômico, a colocação de velocidade máxima
de 40 km onde antes eram 70 ou 60 o limite, criando ARAPUCAS para que a caixa
registradora do órgão de trânsito da Prefeitura não pare de tilintar; 2) o
estado calamitoso das escolas municipais, como a de Paripe, tomada por esgotos
a céu aberto e ratos, como mostrou o programa “Que Venha o Povo”, da TV
Aratu/SBT, na última quarta-feira; 3) as ruas que estão esburacadíssimas, pois
o asfalto só está sendo renovado nos grandes corredores e no “Circuito Helena
Rubinstein”, que vai da Vitória até a Pituba, passando pela Barra, a
menina-dos-olhos da Prefeitura: é como se os outros 90% da cidade NÃO
EXISTISSEM; 4) a política dos “PASSEIÕES” da orla soteropolitana, que afasta
os pobres (negros e quase-negros?) da beira do mar e a pergunta para um jornalismo realmente
investigativo: o quê está por trás da política milionária dos “passeiões”, que na Barra foi orçado em incríveis 57 milhões de reais...
Quer dizer, “A Tarde” e “Tribuna” têm 2 anos e 8 meses
para recuperar o mercado de jornais baiano. Vamos ver se agirão empresarialmente como os
proprietários do “Correio” já o fizeram há alguns anos, quando passaram de último
lugar para líderes ou se vão perder esta JANELA DE OPORTUNIDADE, quando as
pautas do “Correio” se tornaram oficiais ou oficiosas.
* Tony Pacheco é jornalista-radialista profissional formado
pela UFBA, estudou Economia nas universidades federais de Juiz de Fora e da Bahia e Psicanálise na Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil.